O NATAL PERMANENTE
Júlia Silveira
Escrever sobre o Natal é tarefa complexa. Difícil porque parece que tudo já foi dito, entre análises, metáforas e mensagens cristãs. Os ritos, os símbolos e as palavras chaves se repetem há anos, embalados pelos shoppings cheios e as promoções nos supermercados. O espírito natalino espalha-se com rapidez e é comemorado em ceias fartas, durante reuniões de família em casas cuidadosamente decoradas em vermelho, dourado e verde. E por mais que os natais sejam sempre iguais, há neles uma beleza e um misticismo tão intensos que fazem com que, a cada ano, se faça tudo novamente.
Mas o que me intriga nesta data especial é outra prática que se repete: com a mesma rapidez que vem, em uma madrugada do dia 24 para o dia 25, a dedicação à memória da vida de Cristo, a paz, a cordialidade e a celebração da família se esvaem como em um passe de mágica ao raiar do dia 26. Se na noite feliz nos lembramos dos pobres, doamos roupas e dividimos alimentos, nos outros dias do ano seguimos com as nossas vidas, cheios de pressa, correndo sem saber para onde. Mas sabemos que, quando chegar o fim do ano, pararemos por um dia, reuniremos nossos familiares e falaremos com devoção do menino Jesus. O natal é um oásis no deserto, uma pausa na engrenagem, uma válvula de escape. Pequenos atos praticados em nome do aniversário de Cristo garantem a consciência tranqüila para dormir bem nos próximos 364 dias do ano.
Mas nem tudo é hipocrisia. Portanto, viva a todos os esforços para lembrar e homenagear a vida de um bebê pobre que nasceu para mudar a história da humanidade. Viva às luzes, a solidariedade, o cheiro das comidas preparadas com carinho, os abraços fraternos, a desaceleração da rotina e o afeto. Ainda que, para muitos, durem apenas uma madrugada.
Desejo a todos uma noite feliz repleta de alegria, fraternidade e amor, baseada exclusivamente na incrível história do menino e do homem Jesus de Nazaré. Mas desejo, sobretudo, que o seu natal seja mais do que um evento: um estado de espírito que dure o ano todo.
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