sábado, abril 19, 2008

UM NOVO OLHAR


UM NOVO OLHAR

Depois de várias semanas chovendo, o sol apareceu, brilhando num céu azul e sem nuvens. Acordei mais tarde, tomei o café da manhã, li o jornal e quando olhei pela janela, o vento convidou-me a sair, pois não era possível permanecer em casa num dia como aqueles. Fui à praia de Copacabana. Ao chegar comecei a caminhar na areia, à beira-mar. A água que comumente é fria estava morna e com ondas muito fortes.


Durante a caminhada eu olhava a paisagem recordando de quantas vezes já havia visto aquelas montanhas e o mar, em todos estes anos vivendo no Rio de Janeiro. Mas sempre me surpreendo com a nova perspectiva de luzes e cores que o sol e as nuvens podem lançar renovando este cenário a cada dia.


Não há nenhuma novidade no nascer e no pôr-do-sol, mas uma observação cuidadosa pode revelar que esta cidade esconde muitas surpresas a quem se dispuser a olhar e admirar as coisas belas que estão ao redor. Eu descobri isto hoje.(1)
NOTA
(1) Este texto foi escrito no dia 12/04/08 - Dia de muito sol.

sexta-feira, abril 04, 2008

SOBRE PÁSSAROS E GAIOLAS


SOBRE PÁSSAROS E GAIOLAS


Rubem Alves

Deus criou os pássaros.


As religiões criaram as gaiolas. As gaiolas criadas pelas religiões são feitas com palavras. Elas têm o nome de dogmas. Dogmas são gaiolas de palavras que pretendem prender o Pássaro. Guerra Junqueiro, poeta português, escreveu um longo poema que se tornou clássico sobre este assunto: “O Melro”. É bonito. Merece ser lido.


Escrevi, para minha filha pequena, uma estória sobre um Pássaro Encantado e uma Menina. Pássaro e Menina se amavam.Mas sempre chegava o momento quando o Pássaro dizia: “Preciso ir”. A menina chorava e dizia: “Não vá. Nós nos amamos tanto!” O Pássaro respondia: “Eu preciso ir para ter saudades. Porque o meu encanto nasce da saudade!” E partia. A Menina, então, teve uma idéia perversa: engaiolar o pássaro para que ele nunca mais partisse. E assim ela fez. Quando o Pássaro voltou, cheio de estórias para contar, cheio de penas de novas cores, enquanto ele dormiu, ela o engaiolou numa linda gaiola de prata. Ao acordar o Pássaro deu um grito de dor. “Menina, vou perder meu encanto. Vamos perder o amor!” E assim aconteceu. Foram-se as cores. Foram-se as estórias que ele contava. Foi-se o amor.


Escrevi esta estória porque eu ia partir para uma longa viagem e minha filha de quatro anos estava muito triste. Depois de publicada fiquei sabendo que meus colegas terapeutas a estavam usando para lidar com as relações amorosas, maridos engaiolando esposas, esposas engaiolando maridos, maridos querendo voar, esposas querendo voar... Aprovei. Aí um amigo me disse: “Que linda estória você escreveu sobre Deus!” Perguntei: “Que estória?” Ele me respondeu: A da Menina e do Pássaro encantado. Pois o Pássaro Encantado não é Deus que as religiões tentam engaiolar?”.


Um Deus engaiolado nas gaiolas de palavras chamadas dogmas é sempre menor que a gaiola. Esse Deus não é pássaro que voa, é pássaro empalhado.

Deus mora na saudade.

Deus mora na nostalgia.


Pelo menos foi aí que Santo Agostinho o encontrou; num lugar obscuro e doloroso da memória, onde só há silêncio, não há palavras.


Deus não nos deu asas. Deu-nos o pensamento. Voamos nas asas do pensamento. A ciência, a literatura, a música, as artes plásticas, o balé, a culinária, os brinquedos, as coisas que nos dão alegria, são todas criaturas do pensamento. Primeiro voamos na fantasia para, a seguir, criar. Miguel Ângelo primeiro pensou a Pietá para depois esculpir a Pietá... O pensamento são as asas que Deus nos deu.


Assim, tudo aquilo que proíbe o vôo livre do pensamento é contrário ao nosso destino. A questão não é pensar certo ou pensar errado. Afinal, quem sabe o que é certo e o que é errado? A questão é simplesmente pensar. Sem pensamento livre a alma está engaiolada.


O fato é que a história do Cristianismo está cheia de gaiolas. Quantos foram mortos pelo crime de pensar diferente! Desse crime tanto católicos quanto protestantes são culpados. Os mortos foram pássaros que se recusaram a ficar dentro das gaiolas. Os hereges.



ALVES, Rubem, Dogmatismo e Tolerância – Edições Loyola – SP – 2004 – Pp 9-10.

quarta-feira, abril 02, 2008

COMO SERIA O NATAL SE CRISTO TIVESSE NASCIDO EM...


COMO SERIA O NATAL SE CRISTO TIVESSE NASCIDO EM...


Um dia eu comecei a pensar em como seria se Cristo tivesse nascido no Rio de Janeiro nos dias atuais e isto me trouxe a idéia de um projeto: saber como seria o cenário do Natal se Cristo tivesse nascido em Curitiba, Salvador, Belém, Buenos Aires, etc.
Inicialmente meu desejo era montar um presépio representando esta cena, mas a falta de habilidade nas artes plásticas fez com que eu o adaptasse à forma com a qual consigo lidar com mais facilidade: as palavras. Agradeço a todos os que dedicaram o seu precioso tempo para responder aos meus e-mails. MUITO OBRIGADO!
O artigo não se encerra aqui. Quem desejar, pode acrescentar a sua contribuição nos comentários e enriquecer a nossa percepção sobre como seria o nascimento de Jesus, caso ele acontecesse aí no lugar onde você nasceu ou vive atualmente.
Eu imaginei desta forma o cenário do nascimento de Jesus no Rio de Janeiro:
  • Estrebaria: Seria um barraco na entrada de uma favela. Na entrada e não no alto ou no meio da favela, para ser acessível a todos os que desejassem, pobres ou ricos.

  • Animais: Os animais típicos de toda favela carioca são: o cachorro, a galinha e o porco.

  • Pastores: Os pastores desempenhavam uma atividade importante, cuidavam dos rebanhos, mas eram desprezados pelos judeus. Aqueles que representam esta categoria no Rio são os trabalhadores da limpeza urbana chamados "Garis", que fazem um trabalho fundamental para a saúde do povo, mas que são igualmente desprezados pela sociedade.

  • Reis Magos: O personagem que melhor os simbolizaria seria um sambista, um jogador de futebol e um ator. Os presentes seriam respectivamente: um pandeiro, uma bola e as máscaras da alegria ou tristeza, que são o símbolo do teatro.


Thiago Azevedo - Belém – PA – Blog Descanso da Alma


  • Caro Marcos,

    Se Jesus nascesse em Belém-PA, acho que ele nasceria no Ver-o-Peso e os nossos amigos feirantes seriam os pastores, o presépio seria um paneiro revestido de palha da patichulim, o coral de anjos cantaria e dançaria um carimbó para louvar alegremente a Deus pelo nascimento do “minino mais pai d’égua” do mundo, os presentes seriam açaí, um brinquedo de miriti e uma cuia de tacacá.
    Abraços


Wesley Porfírio – Goiânia – GO


Eu imagino um Jesus nascendo não em Goiânia, mas no interioRRRRRRRRR de Goiás.

  • Estrebaria: Seria uma tapera, no meio do Cerrado, às sombras dos galhos de um pequizeiro. (o detalhe q o tronco tem pó-de-mico... mas isso a gente deixa pra lá).

  • Animais: Os animais atraídos pelo sobrenatural romperiam o medo da aproximação com o homem e iriam ver o menino Deus. Seriam eles o lobo guará, o tamanduá-bandeira, o tatu e o tucano.

  • Pastores: Os pastores seriam carvoeiros, que trabalham muitas vezes como escravos em fazendas cercadas por jagunços.

  • Reis Magos: O primeiro seria o Rei do Gado, o segundo o Rei da Soja e o terceiro o Rei do Sertanejo, com os respectivos presentes: um berrante, um carrinho de lobeira e uma viola caipira.


Evelyn Roxy Arrúa Sanders – Encarnación – Paraguay


Hola marcos!!


Buena pregunta de como seria o natal se Cristo tivesse nascido em Encarnación. pero esta dificil la respuesta, la verdad que no pense en eso nunca...

  • Creo que si nacia en encarnacion, seria en la zona rural, donde la gente es muy simple y que apesar de sus dificultades economicas, saben sonreir y tambien llorar porque son transparentes, y a veces hasta muy inocentes.

  • Los animales tipicos de alla son los perros, gallinas, chanchitos, caballos, las vacas lecheras, las gallinetas y los patitos.

  • Pastores, ... creo que serian los vendedores ambulantes, y los niños de la calle, porque estos son muy despreciados en la sociedad.

  • Los reyes magos........................ los 3 reyes magos seriamos mi esposo, mi hijita y yo... porque viviendo aqui tan lejos de encarnacion, si viesemos esa estrella anunciando su nacimiento, viajariamos como fuese, pero iriamos con todo lo que poseemos, para al REY ADORAR
  • Tradução:
    Olá Marcos!
    Boa pergunta esta sobre como seria o natal se Cristo tivesse nascido em Encarnación. É difícil responder, porque, na verdade, eu nunca pensei nisto...
    Creio que se ele nascesse em Encarnación, seria na zona rural, onde as pessoas são muito simples e, apesar das suas dificuldades econômicas, sabem sorrir e chorar, porque são transparentes e às vezes muito inocentes.
    Os animais típicos de lá são os cachorros, galinhas, porquinhos, cavalos, as vacas leiteiras, os pintinhos e os patinhos.
    Pastores: creio que seriam os vendedores ambulantes, e os meninos de rua, porque eles são muito desprezados na sociedade.
    Os reis magos: Seríamos meu esposo, minha filhinha e eu, porque vivendo tão longe de Encarnación, se víssemos esta estrela, anunciando o seu nascimento viajaríamos da forma que fosse possível, mas iríamos com tudo o que possuímos para ADORAR AO REI.


Nora Bouciguez – Buenos Aires - Argentina


Hola Marcos!


A ver si puedo responder tu pedido…

  • El pesebre creo que lo podemos armar en el establo de una casa de campo en el interior de la provincia.

  • Los animales alrededor serian algunas gallinas, patos, vacas, ovejas y caballos. Los pastores serian gauchos

  • Imagino que los mas representativos para el rol de reyes magos serian: Gaucho, un jugador de futbol y un tanguero.

  • Los regalos: un sombrero de ala ancha, una pelota y un pañuelo de compadrito (detalle infaltable en la vestimenta del tanguero)
  • Tradução:
    Olá Marcos!
    Vamos ver se consigo responder ao seu pedido...
    O presépio: Creio que poderíamos montá-lo no estábulo de uma casa de campo no interior de uma província.
    Os animais: Ao redor seriam algumas galinhas, patos, vacas, ovelhas e cavalos. Os pastores seriam os gauchos.
    Imagino que os que representariam melhor a figura dos reis magos seriam: Um gaucho, um jogador de futebol e um tangueiro.
  • Os presentes: Um sombreiro de aba larga, uma bola e o lenço da lapela (detalhe imprescindível na vestimenta do tangueiro).


Cláudio Luiz Mendes – Etiópia

Romão,

A idéia é muito boa. Mas confesso que depois de 11 anos longe da minha cidade natal (Curitiba), as coisas devem ter mudado bastante.Prefiro então falar sobre o pouco que conheço da Etiópia, é o que vejo diariamente.

  • Estrebaria: seria o que eles chamam de Sarbet; Com um detalhe: muitas vezes os animais que requerem maior cuidado (como vacas) ficam dentro da casa junto com os moradores.

  • Animais: cabras (você as vê por toda a Etiópia), burros e talvez umas vacas. Pastores: continuam sendo importantes, mas principalmente cuidando das cabras e dos rebanhos de vacas e bois (detalhe: em plena cidade no meio da rua ou no mercado de venda de cabras)

  • Os Reis Magos: seriam os motoristas de vãs ou de carros da ONU que andam aos montes na cidade e que acabam levando e trazendo coisas e pessoas.Acho que dá pra se ter uma idéia, ok?

Abração e me mande os resultados da pesquisa, ok?


Cláudio



Humberto Ramos – Pouso Alegre – MG – Blog Visão Integral


Olá, meu caro!

Bem, se Jesus nascesse hoje em Pouso Alegre, pode bem ser que ele nascesse:

  • Num casebre de um dos bairros rurais ou mesmo num barraco do Bairro São Geraldo ou São João (bairros periféricos, com algumas favelas).

  • Os animais típicos possivelmente fossem também cachorros, galinhas, porcos e cavalos, existentes tanto na zona rural quanto nas zonas mais periféricas - as favelinhas.

  • Os pastores poderiam muito bem ser trabalhadores rurais: caseiros, ordenhadores de vacas, ou pobres agricultores que vivem do seu próprio plantio.

  • Os reis magos poderiam muito bem ser um fazendeiro rico, um gerente de uma das indústrias aqui presentes e um bem-sucedido comerciante.

Abraços fraternos,

Humberto Ramos