sábado, julho 26, 2008

VOX POPULI, VOX DEI?

VOX POPULI, VOX DEI?
Faz algum tempo que, ao ouvir questionamentos sobre os procedimentos de alguns líderes evangélicos, eu aplicava o seguinte padrão de julgamento: Se a igreja está cheia, isto significa que a mensagem é boa, portanto quem sou eu para questionar estes pastores?
O estudo da teologia, a prática ministerial, e o contato com cristãos sérios me convenceram de que reunir uma multidão, nem sempre é resultado de uma pregação bíblica e teologicamente saudável.
A sociedade atual está perdendo o hábito de refletir, pois se habituou a receber conteúdos prontos e de fácil assimilação. Porque pensar, se alguém já fez isto por mim? Esta atitude aniquila o raciocínio crítico e abre caminho para líderes mal intencionados, que aliam o carisma a uma boa oratória e técnicas de interpretação, para se transformarem em “messias” de suas comunidades.
O mais admirável é perceber que a maioria das igrejas cujos pastores se preocupam com a formação espiritual e intelectual de seus membros, que pregam mensagens com um conteúdo que estimula o pensamento criativo, estão com os seus templos vazios.
Vale a pena o esforço de pregar uma mensagem que as pessoas não querem ouvir? Porque me incomodar com aqueles que estão sendo enganados, mas não se importam a mínima?
Pensar nisto me faz recordar a razão da minha vocação para o ministério. Um dia, sentado nos bancos da I.B Missionária do Maracanã, anunciar as Boas Novas do Reino de Deus tornou-se um ideal para mim e não uma fonte de renda. "Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te envergonhe diante deles". Jeremias 1.17.
Explorar a religiosidade popular virou um bom negócio, "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências". II Timóteo 4:3.
Cabe aqueles que tiveram experiência libertadora de conhecer o Evangelho a tarefa de resistir, para cumprir o chamado que recebemos das escrituras: "Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas. Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão; E toda a carne verá a salvação de Deus". Lucas 3.4-7.
O que alimenta o nosso sonho é a esperança na Graça de Deus, que resgatará a humanidade decaída e nos fará refletir integralmente a imagem e a semelhança de Deus.

SOBRE LEVITAS, APÓSTOLOS E OUTROS MODISMOS

Foto de: Martha Christo
SOBRE LEVITAS, APÓSTOLOS E OUTROS MODISMOS

Rev. Carlos Eduardo Brandão Calvani

Queridos amigos e irmãos em Cristo

Ao ler este texto, não pude deixar de enviá-lo a vocês e, de alguma forma, deixar aqui também meu desabafo.
Naquela semana, eu participava da II Mostra de Práticas em Psicologia, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP), e das tantas coisas que foram ditas, me detive mais nos assuntos que diziam respeito à psicologia social. Lá estávamos eu e uma colega da “psi” e também membros de uma igreja batista, e questionávamos onde estavam nossos conhecidos psicólogos das igrejas.
Nesse contexto, dizia a ela sobre a minha insatisfação com alguns rumos que a teologia tem tomado em nossas igrejas. Sinto falta de pregações mais textuais, com exegese, com a "patrística", com o levar o povo a pensar e ter conhecimento, com congressos de teologia, com falas abertas e não veladas, sobre questões de ética que, têm se perdido no nosso dia-a-dia. Com reflexão e conhecimento da Palavra à luz do entendimento dado pelo Espírito Santo; com discussões sadias e respeitosas, com diálogo, com intelectualização, e não com a mesmice que temos vivido. Sei que isso não acontece em todas as igrejas. Não tenho aturado mais mensagens que ficam o tempo todo com várias historinhas e ilustrações, sem trazer mais do raciocínio do povo. Acredito num Evangelho que também torna o indivíduo mais culto e mais apto a discernir as falas que são apenas falácias, que incentivam a um crescimento, que não subsiste apenas nos momentos de catarse dirigidos pelas "equipes de louvor". Quem me conhece sabe que não sou, nem posso ser, contra a música, mas questiono até suas letras (como estão pobres!).
Onde está a nossa responsabilidade? O que temos feito?
Espero que a leitura do desabafo do rev. Carlos Eduardo nos incomode a ponto de provocar em nós, líderes na maioria, a uma mudança.
Deus nos capacite e tenha misericórdia de nós.
Bjk
Luiza Pinheiro
Domingo, 20 de Julho de 2008.
Artigo Sobre levitas, apóstolos e outros modismos: desabafo de um professor de teologia.
Sou um professor de Teologia em crise. Não com minha fé ou com minhas convicções, mas com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como professor em seminário evangélicos presbiterianos, batistas, da Assembléia de Deus e interdenominacionais desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.
No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.
Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois, outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: "Não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério". Trata-se do mais típico caso de "certeza da vocação" adquirida na ignorância.
E, invariavelmente, esses são os alunos que mais transpiram preguiça intelectual. A grande maioria dos novos vocacionados chega aos seminários, influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam "levitas". Outros dizem que estão ali porque são vocacionados a serem "apóstolos".
Ultimamente, qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na igreja se autodenomina "levita". Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de "força policial" para manter a ordem nas celebrações. Porém, hoje em dia, para os "novos levitas", basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos.
Outros há que se auto-intitulam "apóstolos". Dentro de alguns dias teremos também "anjos", "arcanjos", "querubins" e "serafins". No dia em que inventarem o ministério de "semi-deus", já não precisaremos mais sequer da Bíblia.
Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de "progressista". Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, "saudosista" ou "nostálgico" seriam expressões melhores.
Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto. Atualmente, os chamados "momentos de louvor" mais se assemelham a shows ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso.
Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas igrejas protestantes. Muitas pessoas vão à igreja muito mais por causa do "louvor" do que para ouvir a Palavra, que regenera, orienta e exige de nós obediência. Dias atrás, na semana da Páscoa, comentei com um grupo de alunos a respeito da liturgia das "sete palavras da cruz" que seria celebrada em minha igreja na sexta-feira da Paixão. Alguns manifestaram desejo de participar. Eu os avisei, então, que se tratava de uma liturgia que dura, em média, uma hora e meia, durante a qual não é cantado nenhum hino (pelo menos na tradição de minha igreja - Anglicana), mas onde lemos as Escrituras, oramos e meditamos nas sete palavras pronunciadas por Cristo durante a crucificação. Ao saberem disso, um deles disse: "Se não houver música, não há culto".
Creio que, em parte, isso é reflexo da cultura pop, da influência da "Geração MTV", incapaz de perceber que Deus pode ser encontrado também na contemplação, meditação e no silêncio. Percebo também que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os> "artistas" e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a "identidade" das igrejas evangélicas. Houve tempo em que um presbiteriano ou um batista sabiam dar razão de suas crenças.
Atualmente, tudo parece estar se diluindo numa massa disforme. Trata-se da "xuxização" ("todo mundo batendo palma agora... todo mundo tá feliz? Tá feliz!") do mundo evangélico, liderada pelos "levitas" que aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra estão cativos da cultura gospel.
Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: o relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada "secular". Amedrontados com as muitas opções que o "mundo" oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento.
Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino. Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar.
Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que "falando para as paredes". Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre de "voltar aos rudimentos da fé" e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos na escola dominical. Não sei se isso acontece em todos os seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.
Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo e, sim, aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.

MESTRE JONAS

Foto de: Mariane Metz
MESTRE JONAS

Composição: Sá / Rodix / Guarabyra

Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
a baleia é sua casa, sua cidade
dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho

e ele diz que se chama Jonas
e ele diz que é um santo homem
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
e ele diz que está comprometido
e ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
até o fim da vida

dentro da baleia a vida é tão mais fácil
nada incomoda o silêncio e a paz de jonas
quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora
a baleia é mais segura que um grande navio

e ele diz que se chama Jonas
e ele diz que é um santo homem
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
e ele diz que está comprometidoe ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
até o fim da vida
até subir pro céu

quarta-feira, julho 16, 2008

NOITE


NOITE
Cecília Meireles
Tão perto!
Tão longe!
Por onde
é o deserto?
Às vezes,
responde,
de perto,
de longe.
Mas depois
se esconde.
Somos um
ou dois?
Às vezes
nenhum.
E em seguida,
Tantos!
A vida
transbora
por todos
os cantos.
Acorda
com modos
de puro
esplendor.
Procuro
meu rumo:
horizonte
escuro:
um muro
em redor.
Em treva
me sumo.
Para onde
Me leva?
Pergunto a Deus se estou viva,
se estou sonhando ou acordada.
Lábio de Deus? - Sensitiva
Tocada