segunda-feira, fevereiro 28, 2011

MEDITAÇÕES NO ENGARRAFAMENTO

MEDITAÇÕES NO ENGARRAFAMENTO

"Que proveito o trabalhador tira de sua fadiga?" Eclesiastes 3.9

O trânsito do Rio de Janeiro nunca foi maravilhoso, mas desde que mudei para Niterói, os engarrafamentos passaram a fazer parte do meu dia a dia. Excesso de carros, transporte público deficiente, ruas estreitas e mal pavimentadas, multiplicam o tempo necessário para o deslocamento de um ponto a outro da cidade.

Os congestionamentos são verdadeiros testes de paciência. Eles me irritam pela perda de tempo que causam. Um caminho que é percorrido em quinze minutos, quando está livre, num dia de trânsito intenso pode levar quarenta e cinco minutos, ou até mais. Quanta coisa mais interessante poderia ser feita se eu não estivesse dentro de um ônibus ou de um carro, sem poder seguir adiante?

Toda esta situação me leva a fazer uma analogia com determinadas fases da vida em que nos preparamos para andar rápido, mas fatores alheios à nossa vontade criam obstáculos ao avanço. Aprendi que não adianta ficar irritado no meio de um engarrafamento, porque a irritação não melhorará o trânsito mas, com certeza, tornará o meu dia pior.

Em determinados momentos não adianta insistir, temos que permanecer firmes e suportar as dificuldades que virão pela frente. É com esta persistência que chegaremos ao fim do caminho saudáveis e com espírito alegre para celebrar o fim da jornada.

Algumas providências são necessárias para neutralizar o impacto do trânsito ruim: Sair mais cedo de casa é uma delas, bons livros, ter um celular, mp3 ou Ipod carregados com boas músicas é outra boa opção para distrair-se e aproveitar estas horas da melhor maneira.

Nos engarrafamentos da vida também é possível superar os efeitos negativos da paralização, principalmente quando ela se prolonga indefinidamente. Estudar, planejar o futuro, curtir os pequenos momentos agradáveis que a vida proporciona: um encontro com os amigos, uma boa conversa, um lindo por do sol, etc. Estes momentos, aparentemente insignificantes, podem fazer toda a diferença na hora em que é necessária uma dose extra de energia para seguir em frente.

O transporte público é fundamental para a qualidade de vida do trabalhador. Não se deve tratar deste tema visando apenas o lucro, é preciso haver respeito ao cidadão que paga os seus impostos. É possível fazer um transporte de boa qualidade que seja lucrativo, mas para que isto aconteça é fundamental que a população se mobilize e exija que o seu direito seja atendido pelas autoridades.

O tempo de voo direto entre o Rio e Salvador é de 01h40m, entre o Rio e Buenos Aires é de 3 horas. Não é raro eu sair do trabalho em Copacabana à 18h e chegar em casa às 21h. Nem quero imaginar o que vai acontecer quando começarem as obras da Perimetral no Rio e da Estrada do Contorno, em Niterói.

sábado, fevereiro 12, 2011

Amós e a Justiça Social - Conclusão

Foto de: Rachael de Vasconcelos Alves

AMÓS E A JUSTIÇA SOCIAL - Conclusão:

Desde a época de Amós, até os dias de hoje, o anseio das pessoas permanece o mesmo. Todo o desenvolvimento econômico e tecnológico ainda não foi capaz de produzir uma sociedade mais justa.

Os profetas ainda são necessários para denunciar os acordos fraudulentos que enriquecem a poucos privilegiados à custa do sofrimento de muita gente.

É neste contexto que o ministério da igreja ganha relevância. Ela precisa ser a voz daqueles que não têm força para clamar contra os abusos que sofrem. Ela não pode acomodar-se à “zona de conforto” dos conchavos políticos sob pena de perder tanto a credibilidade quanto o seu espírito.

O livro do profeta Amós nos desafia a olhar para a justiça social com mais atenção e com seriedade. Não é possível construir a história de um país baseada na corrupção. Cedo ou tarde as consequências aparecerão e não serão nada agradáveis. A justiça é um assunto espiritual e não pode ser desprezada pela igreja que deseja desempenhar um papel transformador neste mundo. Que o exemplo de Israel, relatado na bíblia, nos leve a uma mudança de atitude e a um compromisso maior com os princípios do evangelho.

O mundo anseia por saídas para tanta usurpação e a igreja, pelo poder do Espírito santo, será capaz de mostrá-las, se decidir ser o que Jesus pediu que ela fosse: “sal da terra e luz do mundo”.

CASTIGO E RESTAURAÇÃO

Foto de Marcele Oliveira

CASTIGO E RESTAURAÇÃO

"Farei voltar os exilados do meu povo Israel. Eles voltarão a construir as cidades que foram destruídas, e nelas vão morar. Plantarão vinhedos e beberão seu vinho; formarão pomares e comerão suas frutas".

Amós 9.14

Os pais desejam o melhor para os seus filhos, mas em algumas situações faz-se necessário agir com dureza para reconduzi-los ao caminho adequado. Em mais uma séria advertência, Deus anuncia o pesado juízo que virá sobre a nação, caso ela insista em ignorar a justiça.

Por oferecer muitas chances, a misericórdia divina pode ser confundida com uma interminável procrastinação. Ainda que pareça demorado, o juízo virá para alcançar os ímpios e revelar que não há um lugar seguro para se esconder da ira do Senhor.

A destruição será grande, a fim de abater o orgulho dos poderosos, que se consideravam inatingíveis, devido a sua influência política e poder financeiro. "Pois eu darei ordem e sacudirei no meio de todos os povos a casa de Israel, como se abana o trigo na peneira, sem deixar que caia no chão um grãozinho sequer". (v.9)

Apesar de ser duro com os arrogantes, Deus apresenta a sua face misericordiosa com os humildes, aqueles que já estavam cansados de sofrer privações. "Nesse dia, vou armar de novo a tenda de Davi que caiu. Vou tapar seus buracos, levantar suas ruínas, até reconstruí-la como era antes". (v11).

Esta misericórdia não se limitava geográfica ou religiosamente a Israel. Ela se estendia a todos os povos que necessitavam de intervenção divina para a sua libertação.

Deus não queria arrasar Israel, seu intuito era restaurá-lo e transformar aquela terra num lugar onde os ideais do Reino de Deus não fossem apenas um discurso bonito para manter as aparências, mas uma realidade indiscutível a ser testemunhada pelas nações vizinhas.

O sofrimento daria lugar à paz, a liberdade substituiria a opressão, e cada pessoa teria um pedaço de terra para construir uma casa, cultivar a lavoura e sustentar a família com dignidade.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Bispo de Limoeiro do Norte (CE) recusa comenda no Senado

terça-feira, fevereiro 08, 2011

DEUS NOS LIVRE DE UM BRASIL EVANGÉLICO

DEUS NOS LIVRE DE UM BRASIL EVANGÉLICO

Ricardo Gondim

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.

Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.

Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).

Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.

Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?

Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?

Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.

Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.

Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?

Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.

Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.

Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.

Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.

O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.

Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.

Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.

Soli Deo Gloria
7-02-11

Fonte: http://www.ricardogondim.com.br

Muçulmanos e Cristãos Oram Juntos na Praça Tahrir, na Capital do Egito



Muçulmanos e Cristãos Oram Juntos na Praça Tahrir, na Capital do Egito

Local foi a ‘fortaleza’ dos manifestantes que pediam a saída de Mubarak. País volta aos poucos ao normal após 13 dias de violentos protestos de rua.

Muçulmanos e cristãos egípcios rezaram juntos neste domingo (6) na emblemática Praça Tahrir, no centro do Cairo, ao mesmo tempo que governo e oposição pareciam esboçar um acordo para encerrar a crise política no país. A praça virou a fortaleza dos manifestantes que, durante 13 dias, exigiram a renúncia imediata do contestado presidente Hosni Mubarak.

Os muçulmanos realizaram primeiro sua prece diária do meio-dia, ajoelharam-se em direção a Meca, numa praça onde se produziu uma batalha campal na quarta-feira passada, quando milhares de partidários do presidente entraram em Tahrir para desalojar os opositores.

Depois, um grupo evangélico entoou duas canções, uma delas pedindo a paz, enquanto milhares de pessoas agitavam a bandeira egípcia fazendo um V da vitória com as mãos. Em seguida, um religioso cristão, Ihab Jarrat, leu através de alto falantes alguns salmos, concluídos com um “amém” geral.

Milhares de manifestantes aproveitaram a oportunidade para lançar a mensagem de que as duas religiões estavam unidas contra Mubarak.

“Os muçulmanos e os cristãos do Egito, a Crescente Vermelha e a Cruz, dizem vá embora, presidente”, declarou Jarrat, filho do escritor egípcio Edward Jarrat.

Imediatamente, a multidão entoou o lema habitual: “Mubarak, vá agora”".

Os cristãos representam entre 6 e 10% dos 80 milhões de egípcios. A maioria é formada por coptos ortodoxos, cujo patriarca Shenuda III pediu aos fiéis que não participassem das manifestações. Os protestos já deixaram mais de 300 mortos desde 25 de janeiro, segundo as Nações Unidas.

Fontes: http://www.pavablog.com/2011/02/06/muculmanos-e-cristaos-oram-juntos-na-praca-tahrir-na-capital-do-egito/ - Acessado em:08/02/2011

sábado, fevereiro 05, 2011

Ed René Kivitz - TALMIDIM 033: Almoço Grátis

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

TERMELÉTRICAS E USINAS NUCLEARES NO NORDESTE, TERRA DE VENTO E SOL - Sérgio Abranches

Foto: Site Mundo Hoje - acesso em: 04/11/2011


TERMELÉTRICAS E USINAS NUCLEARES NO NORDESTE, TERRA DE VENTO E SOL

Sérgio Abranches

O apagão que deixou ontem sete estados do Nordeste sem luz foi causado por falha técnica, desta vez, dizem os responsáveis, não por oferta insuficiente ou demanda elevada. Mas a região precisa de aumentar a capacidade local de geração. Mas deve fazer isso explorando seu melhor potencial e buscando segurança energética. Poderia se tornar um pólo mundial de energias renováveis alternativas.

Mas o governo escolhe o pior caminho: faz termelétricas a combustível fóssil, poluindo a região e sujando a matriz elétrica brasileira e quer fazer usinas nucleares. Não precisa, o Nordeste é a maior fonte de energia eólica e solar do Brasil. Limpa e segura. Há áreas do semi-árido, hoje quase sem população, são muito secas e ficarão mais secas ainda no futuro. Nelas poderiam ser instaladas centrais de energia solar fotovoltaica.

Por que insistimos no caminho do velho? Por que o Brasil tem preconceito e se recusa a fazer o que o resto do mundo todo está fazendo: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Portugal, China, Índia? Só para mencionar os principais.

Porque temos uma política energética ultrapassada e que virou monopólio de uma clique de tenocratas e donataria de grupos políticos. O Ministério das Minas e Energia é como uma grande sesmaria, loteada politicamente. É comandado por uma facção política como se fosse direito hereditário. As empresas elétricas são capitanias hereditárias, os partidos viraram donos delas. Com o loteamento de um setor estratégico para o país para os grupos mais clientelistas da política brasileira, fica difícil imaginar políticas públicas com visão de futuro, voltadas para a inovação, sintonizadas com as tendências mundiais.

Nosso sistema de transmissão e distribuição é ineficiente. Apagões têm sempre um culpado exótico, o raio de Bauru, que só os técnicos do setor elétrico viram, mas a meteorologia não captou, ou o culpado é sujeito indefinido: “mandaram” desligar Itaipu – e aí 18 estados ficam sem luz. Ontem, segundo explicação da CHESF, uma peça eletrônica, uma “cartela eletrônica”, de uma grande subestação desligou, por defeito, parte do sistema e sete estados do Nordeste, mais o interior do Piauí, ficaram sem luz. Não dá para demitir o raio de Bauru, ou a cartela eletrônica.

Em entrevista, ontem, para Míriam Leitão na Globonews, o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, e o diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, defenderam investimento no aumento de eficiência na geração, transmissão, distribuição e consumo de eletricidade no Brasil. A energia mais barata que temos é a que desperdiçamos e a que deixamos de produzir. Defenderam também a diversificação urgente de nossa matriz energética, aumentando a geração eólica, que pode ser o melhor complemento da hidreletricidade e ainda dá segurança energética ao Nordeste. Eu concordo inteiramente. O Brasil precisa passar a investir em energia solar. O Nordeste não tem mais potencial hidrelétrico, mas tem um vasto potencial eólico e solar. A Índia está instalando a maior usina do mundo movida pelas ondas do mar. Aqui as ondas quebram nas praias, ociosas, dolentes, e ninguém vê a energia nelas contida. O vento balança as folhas do coqueiro do Nordeste, mas move muito poucas turbinas eólicas. O sol esquenta o agreste, mas não gera um único Watt de eletricidade. Mas a fumaça das termelétricas aumenta e agora o Nordeste enfrentará o risco nuclear.

Sempre me perguntam qual é a alternativa para o que se vem fazendo, e inclusive para Belo Monte? Resultado da propaganda do governo e setores do mercado interessados no status quo, que dizem que ou fazemos esses absurdos programados no PAC ou teremos um apagão e o crescimento será inviável. Não é assim. O mundo busca alternativas que temos de sobra e desprezamos. Insistem que é mais caro e não dá escala. Enquanto isso, no resto do mundo, o custo por kWh dessas energias só faz cair e a escala só aumenta. Caro é Belo Monte, um projeto sem transparência, cujo custo final, depois de realizado será provavelmente muito maior do que se diz. Era R$ 20 bilhões, o BNDES já reconhece R$ 26 bilhões. Duvido que fique na casa dos trinta. A usina de Simplício, no rio Paraíba do Sul, entre os municípios de Chiador, MG, e Sapucai, RJ, custou o dobro do estimado. Imagine-se uma obra das proporções de Belo Monte, lá no Xingu. Et pour cause.

A eficiência energética não supera a necessidade de expandir a capacidade instalada, mas reduz a urgência na instalação de novas usinas e garante melhor aproveitamento dos MW já gerados e dos novos que entrarão no sistema. Reduz custo e preço. É o melhor investimento que se pode fazer. Tecnicamente falando, claro. Mas é um péssimo investimento político: invisível, não dá inauguração, não gera grandes contratos com empreiteiras. Não dá para fazer. Energia eólica e solar fotovoltaica, a começar pelo Nordeste, são uma óbvia opção brasileira. Precisa subsidiar? Precisa. Mas o governo subsidia hidrelétricas e, pior, termelétricas a carvão e óleo. Pagamos caro pela energia do passado, como disse Barack Obama no discurso “Estado da Nação” ao Congresso do EUA. Por que não subsidiar a energia do futuro? O atendimento de populações de mais baixa renda e longe dos grandes centros, pode ser feito com pequenas usinas, biomassa, turbinas eólicas. Cidades inteiras podem gerar boa parte de sua energia usando lixo, biomassa, eólica e solar.

Alternativa tem. Os lobbies e as forças que controlam a política energética é que não querem admitir.

http://www.ecopolitica.com.br/2011/02/04/termeletricas-e-usinas-nucleares-no-nordeste-terra-de-vento-e-sol/ acesso em: 04/11/2011.

POR QUE TEMER O ESPÍRITO REVOLUCIONÁRIO ÁRABE?

Foto: Revista Exame - Acesso em: 04/02/2011

POR QUE TEMER O ESPÍRITO REVOLUCIONÁRIO ÁRABE?

A reação ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo. A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente". O artigo é de Slavoj Zizek.
O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas Tunísia e Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - se provou errada.

Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se engajam numa luta mortal, frequentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.

Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irã? As centenas de milhares de apoiadores de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que liberou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.

Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista o componente social. O Talibã é usualmente apresentado como um grupo fundamentalista islâmico que impõe suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, o Talibã estava criando, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o quê impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre de as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?

A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?

É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iémen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista. Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente oportunista reação foi aquela de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha se tornou clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.

Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode arguir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder para fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak se assegurou disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.

A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".

Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar lá, é ele.

(*) Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None", conhecido aqui no Brasil como "O Caso dos Dez Negrinhos".

REFERÊNCIAS FEITAS PELO AUTOR:

http://www.guardian.co.uk/world/2010/feb/02/iran-mousavi-dictatorship-khameini-protests
http://www.nytimes.com/2009/04/17/world/asia/17pstan.html?_r=1
Fonte: http://www.guardian.co.uk
Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17357