quarta-feira, novembro 16, 2011

A IMPACIENTE EXPECTATIVA DA CRIAÇÃO

A IMPACIENTE EXPECTATIVA DA CRIAÇÃO

Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam com a glória futura que deverá ser revelada em nós. A própria criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus. Entregue ao poder do nada - não por sua própria vontade, mas por vontade daquele que a submeteu -, a criação abriga a esperança, pois ela também será liberta da escravidão da corrupção, para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. Romanos 8.18-21

Este texto remete à esperança cristã, que não é apenas escatológica, mas alcança o momento presente, cheio de ansiedade na luta diária pela sobrevivência.

Paulo fala sobre do dilema da vida, em que o sofrimento e a redenção caminham lado a lado, pois, uma olhada na situação ao alcance da vista, mostra um quadro bastante complicado, com agressões ao meio ambiente e crises das mais diversas atingindo países e instituições, que antes eram consideradas muito sólidas.

Tudo isto pode parecer muito distante, mas o mundo globalizado eliminou as fronteiras, principalmente no que se refere às finanças fazendo com que os reflexos de qualquer evento, se espalhem instantaneamente por todo o planeta.

Quando o apóstolo contempla as tribulações da vida presente ele o faz a partir da perspectiva da redenção. No meio de tantos problemas, ele pode caminhar tranquilo, porque sabe que algo melhor lhe espera mais adiante.

A criação sofre com o resultado do pecado. Em desequilíbrio, a natureza produz o caos, respondendo às agressões que tem sofrido. Os ricos estão tranquilos, pois suas casas estão protegidas contra os rigores da tempestade. Os mais pobres, elo mais fraco desta corrente, se angustiam, porque não possuem tantos meios para defender-se.

Quando tudo vai mal, os ricos abandonam as suas casas e se mudam para os melhores lugares, deixando como herança a terra devastada. Aos pobres, resta a opção de viver, pelo tempo que lhes for concedido, nos lugares onde ninguém deseja permanecer tais como: antigos lixões, encostas de morro ou terrenos abandonados.

Quando estas áreas começam a apresentar algum interesse comercial, se inicia o processo de remoção, para que a oportunidade do lucro não seja perdida.

A grande injustiça da sociedade capitalista está em que não existem condições de se manter o padrão atual de consumo e estendê-lo igualmente para que todos os habitantes da terra usufruam de seus benefícios. Então, para que poucos acumulem muito, muitos precisam viver na miséria, sem perspectivas de vislumbrar qualquer melhoria.

Mas nem tudo está perdido, pois a criação abriga a esperança de redenção, a partir do caos em que ela se encontra atualmente.

Durante milhões de anos a terra viveu e sustentou-se muito bem se qualquer vestígio da presença humana. A natureza não depende do homem para se recompor, após cada desastre, ela mesma vai se reorganizando para voltar a se apresentar com toda a sua exuberância original.

A esperança cristã é exatamente esta, de que um dia possamos viver num mundo onde não haja injustiça, fome tristeza ou violência. É por isso que oramos e pregamos a boa nova do evangelho.

Quando absorvemos o evangelho e começamos a espalhar a sua semente no coração das outras pessoas, temos a oportunidade para estabelecer uma agenda ministerial libertadora, que não se preocupe apenas com as questões internas da igreja, mas que aborde os temas sensíveis da sociedade e repudie com veemência toda a manifestação de opressão e injustiça que teime em se legitimar pelo silêncio das lideranças acomodadas.

A redenção que esperamos, trará paz e liberdade e ela começa a partir do momento em que o Reino de Deus se estabelece em nosso coração. Que sejamos estes agentes de transformação social que Jesus sonhou quando estabeleceu a igreja na terra, para dar continuidade ao seu ministério.

quarta-feira, novembro 02, 2011

A CERTEZA QUE É FRUTO DO ESPÍRITO

A certeza que é fruto do Espírito

"Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. E vocês não receberam um Espírito de escravos para recair no medo, mas receberam um Espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus, herdeiros junto com Cristo, uma vez que, tendo participado dos seus sofrimentos, também participaremos da sua glória". Romanos 8.14-17

Introdução

A característica marcante da pós-modernidade é a ausência da certeza. O avanço da tecnologia produz tal quantidade de informação, que é praticamente impossível assimilar tudo adequadamente.

A relativização das ideias fragmentou o conceito de certo e errado determinando que cada um possui a sua verdade particular e, dependendo do ponto de vista, a que é submetido, todos têm razão.

As relações de trabalho se degradam a olhos vistos e o crescimento dos índices de desemprego estimula a concorrência desleal, que deixa o trabalhador inseguro em relação ao futuro.

Diante deste cenário caótico, a Bíblia aponta para um fato que nos garante conforto, acolhimento, segurança e a certeza de que pertencemos à família de Deus:

1) Somos filhos porque fomos escolhidos.

Paulo não deixa espaço para dúvidas: "Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. A primeira consequência deste reconhecimento é assumir uma postura diferente diante das exigências apresentadas pela vida.

Ao dizer que não somos mais escravos, ele afirma que não somos objetos que se prestam a esta ou aquela utilização, mas que possuímos identidade somos filhos e não precisamos temer o relacionamento familiar.

O filho não teme porque confia que o seu pai lhe oferecerá carinho e proteção. A condição de adotado não lhe causa desconforto, porque ele sabe que foi escolhido e acolhido com amor no coração paterno.

Esta certeza não está apoiada em pressupostos frágeis, por que...

2) A convicção de ser filho de Deus é dada pelo Espírito Santo.

O próprio Deus confirma em nosso coração e oferece um testemunho plenamente confiável da nossa condição. Não há porque temer a rejeição.

“Contrapondo-se ao egoísmo, a ação do Espírito cria um novo tipo de relacionamento dos homens entre si e com Deus: a relação de família. Agora podemos chamar Deus de Pai, pois somos seus filhos e isto é a base de relações sociais recompostas: o clima de família se alastra porque todos são irmãos”. [1]

Olhar o outro como irmão significa acolher esta pessoa da mesma forma que fomos recebidos por Deus. Ele deixa de ser estranho ou estrangeiro e passa a ser parte da minha família. Por conta disso, eu passo a me importar com a sua vida e o seu futuro.

Fazer parte desta família espiritual traz um privilégio, que é a intimidade. Deus quer estar próximo, por isso permite que o chamemos de paizinho (Abba pai). Não existe nada melhor do que saber que podemos voltar para casa e encontrar ali tranquilidade, proteção e o alívio das tensões diárias.

O Espírito Santo trata de afastar qualquer dúvida que venha a assaltar o nosso coração assegurando-nos de que somos filhos e que nada pode revogar esta condição diante do pai.

3) Ser filho de Deus nos torna participantes de sua glória.

O ato de reconhecimento de paternidade traz consigo o direito dos filhos à herança. No caso humano isto se refere aos bens da família. Mas “A herança prometida por Deus aos ‘que são guiados pelo espírito’ consiste em participar do Reino. Isto implica a seriedade de um testemunho como o de Jesus Cristo” [2].

Participar do Reino é ter a oportunidade de olhar para o mundo onde vivemos com um olhar inconformado. Este inconformismo deve ser o estopim para a busca de transformações efetivas para a sociedade.

Em seu ministério, Jesus não foi condescendente com as injustiças que presenciou. Ser participante da glória de Deus é um privilégio, que carrega em si a responsabilidade de cuidar dos nossos irmãos que sofrem as consequências da pobreza e da exploração.

Da mesma forma que cuidamos do bem estar da nossa família, precisamos nos importar com a sociedade, para que ela se torne um lugar mais justo. Assim, seremos capazes de ver o Reino de Deus se estabelecendo e vencendo o pecado. Esta é a herança de filhos, que nos está reservada.

Conclusão

Neste tempo de alta competitividade e solidão é alentador saber que podemos fazer parte de uma família que nos recebe amorosamente, apesar das imperfeições que fazem parte da condição humana.

A certeza que o Espírito Santo oferece de que somos filhos amados de Deus não nos desconecta da vida real e de seus sofrimentos, mas anima o coração a resistir, porque conforme a bíblia afirma: “uma vez que, tendo participado dos seus sofrimentos, também participaremos da sua glória”.

Participar da glória divina é consolidação da esperança cristã. Enquanto esperamos que ela se realize, podemos espalhar a mensagem do evangelho, para que mais pessoas entendam que o Reino de Deus começa agora e vai nos acompanhar por toda a eternidade.

Precisamos aprender a entregar as nossas angústias nas mãos daquele que nos ama de verdade. Precisamos aprender a descansar como crianças nos braços do Pai. Precisamos aprender a ser filhos de Deus.

NOTAS

1 e 2 – BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – p. 1383.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.