quinta-feira, dezembro 31, 2009

CRISE? QUE CRISE?


CRISE? QUE CRISE?

Ainda que a figueira não brote e não haja fruto na parreira; ainda que a oliveira negue seu fruto e o campo não produza colheita; ainda que as ovelhas desapareçam do curral e não haja gado nos estábulos eu me alegrarei em Javé e exultarei em Deus, meu salvador. Meu Senhor Javé é a minha força, ele me dá pés de gazela e me faz caminhar pelas alturas". Habacuque 3.17-19

Este ano de crise chega ao fim com a esperança de que o mercado venha a se recuperar do susto que começou em 2008. No auge da tempestade o presidente conclamou o povo a um ato de cidadania: comprar, para que a roda da economia não interrompesse o seu movimento. A população atendeu ao chamado. Hoje, as lojas cheias, os voos lotados e as ruas repletas de carros novos, dão a impressão de que a prosperidade tomou conta do país.

Habacuque também passou por uma grande crise durante o seu ministério. Os judeus sofriam com a corrupção das autoridades e para complicar um pouco mais, o invasor estava a caminho, porém "não vem para fazer justiça, mas para substituir uma opressão por outra".(1) O texto acima mostra que o profeta não estava muito otimista com o futuro, pois o panorama que ele descreve, equivale a uma tragédia para uma sociedade agrária.

Os pobres sofrem mais quando o país enfrenta situações difíceis, porque eles têm menos opções para socorrrê-los na hora do aperto. As grandes corporações recebem auxílio do governo. Elas não podem quebrar, por este motivo demitem para sanear as suas finanças. Desempregado, como o trabalhador fará para honrar os seus compromissos? As necessidades não pedem licença para chegar, elas simplesmente aparecem e exigem uma resposta adequada.

Ao observar tanta injustiça acontecendo diante dos seus olhos e sem ter ferramentas para impedir que ela se estabeleça em sua comunidade, Habacuque declara que a estratégia do justo para viver em momentos de crise é a fé, de cuja raiz provém a palavra fidelidade. A fidelidade proporciona uma estrutura moral que sustenta o indivíduo nos momentos em que as referências conhecidas estão ocultas sob a neblina. O fiel aposta que seguir a Deus é a melhor opção diante da possibilidade de corromper-se. Mesmo sem nenhuma evidência a favor, ele crê que Deus está no controle e isto é o suficiente.

A fé alegra o coração do profeta diante de um cenário de caos: não há colheita e mesmo quem tem dinheiro não pode comprar nada. Mas Deus é a salvação, confere um propósito à vida, por isso não há como se afastar dele. A fé permite que as crises, ao invés de destruir, forjem a persistência e ressaltem as qualidades do caráter humano. Ao apostar em Deus, renunciamos às compensações imediatas da injustiça e optamos pela recompensa de vida eterna que ele prometeu.

2009 foi um ano de fé. Não posso dizer que foi ruim, porque progredi em vários aspectos, mas estes últimos doze meses foram muito difíceis de superar. Em alguns momentos a impressão era de que eu dava um passo para frente e dois para trás. Neste período, as disciplinas espirituais da leitura bíblica e da oração mostraram o seu valor a cada manhã quando, na hora de levantar, eu me perguntava: vale a pena todo este sacrifício? Como resposta, a esperança produzia forças e enchia o coração de ânimo para enfrentar as lutas daquele dia.

Os problemas sempre virão, o desafio que o texto propõe é: Não deixar que eles ofusquem as bênçãos que o Senhor concede. "Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam com a glória futura que deverá ser revelada em nós". Romanos 8.18, é a promessa bíblica para os que crêem.

A alegria do profeta, apesar de toda dificuldade que ele contemplava ao seu redor, não era fruto da alienação, mas da certeza de que Deus não o deixaria desamparado. Em seu livro "Ser é o Bastante", Carlos Queirós afirma: "O discípulo, para ser feliz, não depende da alegria ou tristeza durante a noite nem das circunstâncias de uma nova manhã. Sua felicidade independe do tempo. Não porque o discípulo tenha domínio sobre o tempo, mas pela sua capacidade de administrar seus sentimentos em relação ao tempo". (p.52).

Neste último dia do ano, desejo que a fé que animou o profeta invada o seu coração e lhe permita cantar como ele o fez: "Meu Senhor Javé é a minha força, ele me dá pés de gazela e me faz caminhar pelas alturas". Na celebração desta noite reflita sobre as alegrias e tristezas e as deposite nas mãos de Deus, pois ele as transformará em sementes que produzirão frutos de alegria e paz para 2010, 2011, 2012 e por toda a eternidade.

NOTA
(1) BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral - P.1147

REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.
QUEIROZ, Carlos - Ser é o Bastante: Felicidade à luz do Sermão do Monte - Curitiba - Encontro - 2009
MÁRCIUS, Stênio - E Se

Nenhum comentário: