quarta-feira, abril 29, 2009

A BOA NOTÍCIA DO REINO DE DEUS

Foto: Marcos Vichi

A BOA NOTÍCIA DO REINO DE DEUS


“Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus". Marcos 1.1


INTRODUÇÃO


Jesus veio para mudar a forma como as pessoas se relacionavam entre si e com Deus. A proclamação da chegada do Messias permitiu às pessoas tomarem conhecimento de um fato importante, que lhes ofereceria uma esperança renovada para a vida. Mas nem todos vão ficar satisfeitos com esta proposta.


A vida em Israel não estava fácil na época em que Cristo iniciou o seu ministério terreno. Política e religião eram assuntos delicados e envolviam muitos interesses, que não seriam ignorados por sua mensagem. Jesus Não pretendia ser apenas um carismático animador de multidões, tão pouco um fantoche guiado pelo império Romano. A instigante saga do Reino de Deus estava começando e depois dela, o mundo não seria mais o mesmo.


UM MESSIAS ESPERADO
Marcos anuncia a chegada de alguém muito aguardado pelos judeus. Um homem que implantaria o Reino de Israel e o ampliaria, permitindo que ele alcançasse toda a terra. Esta ideologia é percebida claramente nos seguintes textos: “Todos os confins da terra se lembrarão, e voltarão para Javé. Todas as famílias das nações se prostrarão na presença dele. Pois a realeza pertence a Javé, é ele quem governa as nações”. Salmo 22.28-29, ou: “A ti, Javé, pertencem a grandeza, o poder, o esplendor, a majestade e a glória, pois tudo o que existe no céu e na terra pertence a ti. Teu é o reino, e a ti cabe o elevar-se como soberano acima de tudo ”. I Crônicas 29.11.

Toda esta expectativa pelo advento do messias não se dava apenas pelo fato da simples definição de fronteiras físicas de um reino, mas porque este também seria um passo muito importante para a história da redenção de Israel. Conforme Salmo 98.2-4: “Javé fez conhecer a sua vitória, revelou sua justiça às nações. Lembrou-se do seu amor e fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra contemplaram a vitória do nosso Deus. Terra inteira aclame a Javé e dê gritos de alegria!”.


A palavra “ungido” tem a sua origem no Hebraico – mashiach – a sua tradução para o grego é a palavra: Χριστός – Christós. “Portanto, ao invés de ser um sobrenome, Cristo é um título, uma declaração dos propósitos do filho de Deus, em sua vinda ao mundo (...) Quando dizemos Jesus Cristo, estamos confessando-o como o ungido de Deus e portador da salvação O título Cristo é uma síntese das qualificações de seu portador”. 1


No Antigo Testamento, a palavra Messias, era utilizada para aqueles que exerciam uma função sacerdotal, inclusive para reis, conforme informa o texto de Levítico 4.3: “Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo, oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, que cometeu, um novilho sem defeito, por expiação do pecado”, e Salmos 18:50: “Pois engrandece a salvação do seu rei, e usa de benignidade com o seu ungido, com Davi, e com a sua semente para sempre”.


O escritor começa identificando o protagonista do seu evangelho como o Filho de Deus, o Ungido, para que não paire nenhuma dúvida sobre as credenciais de Jesus Cristo. “O próprio nome de Jesus vem da palavra Joshua, que significa: Ele salvará” (Yancey, p. 53).


A ocupação estrangeira afetou a vida religiosa de Israel. Tradicionalmente tolerante com a cultura religiosa dos povos que dominava, o império Romano não via com bons olhos a insistência judaica de considerar o seu Deus como o único Deus, nem a expectativa de que esta divindade suprema enviaria o seu filho ao mundo para reinar e abalar o trono de César.


Os judeus resistiam obstinadamente a qualquer tentativa de inserção de elementos estranhos em sua cultura e religião. Enquanto as nações ao seu redor incorporavam o idioma e a cultura grega ao seu dia a dia, Israel continuava falando o hebraico e o Aramaico. Eles preferiam a morte, ao invés de prostrar-se diante das múltiplas divindades da mitologia romana.


O filho de Deus era esperado para mudar esta situação estabelecendo a justiça, como padrão para governar o relacionamento entre os homens conforme declara o texto de Isaias 11.4-5: “Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças retas aos pobres da terra. Ele ferirá o violento com o cetro de sua boca, e matará o ímpio com o sopro de seus lábios. A justiça é a correia de sua cintura, é a fidelidade que lhe aperta os rins”.


A figura do messias guerreiro era intensamente propagada pelos sacerdotes, pelos profetas e a sua figura de maior expressão era o Rei Davi, que derrotou os inimigos, fundou Jerusalém e recebeu a promessa de que o seu trono jamais teria fim. “O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de comando do meio de seus pés, até que o tributo lhe seja trazido e os povos lhe obedeçam”. Gênesis 49.10. “Seu trono é de Deus, e permanece para sempre! O cetro do seu reino é cetro de retidão!”. Salmo 45.7.


ESPERANÇA, APESAR DA OPRESSÃO.

Apesar de estar a séculos vivendo debaixo do domínio estrangeiro, Israel jamais se esqueceu do período de glória vivido durante os reinados de Davi e Salomão. As histórias passadas de pai para filho, através da tradição oral e dos pergaminhos sagrados, forjaram um caráter altivo na nação, que agia como nobre, mesmo não desfrutando mais de poder sobre o seu destino.


Apesar de todos os problemas com o governo central, os judeus desfrutavam de certa autonomia política que incluía a figura de um rei, Herodes, fantoche dos romanos, que assumiu o trono com a tarefa de manter os rebeldes sob controle. Neste cenário, foram criados alguns partidos políticos/religiosos, que, de diferentes formas, repeliam ou colaboravam com governo central romano.


Os Zelotes: Defendiam a luta armada para libertar a terra Santa. Enquanto uma facção empreendia atentados contra alvos civis ou militares romanos, a outra se encarregava de garantir o estrito cumprimento da lei, evitando casamentos entre judeus e estrangeiros, e outros pecados, que comprometeriam a pureza religiosa.


Os Essênios: Eram pacifistas, e buscavam o isolamento em comunidades nas montanhas do deserto. “Convencidos de que a invasão romana viera como castigo por seu fracasso em guardar a lei, dedicavam-se à pureza (...) Esperavam que a sua fidelidade incentivasse o advento do Messias” . (Yancey, p 65).


Os saduceus: Helenizados sob o domínio dos gregos, faziam alianças com os dominadores do momento. Não criam na intervenção divina nem na vida após a morte. Desfrutavam de prestígio político e econômico razão pela qual não desejavam mudanças radicais na estrutura da sociedade.


Os Fariseus: Muito popular na classe média, oscilavam entre o separatismo e o colaboracionismo. Eram estritos seguidores da lei e tiveram vários conflitos com Jesus relativos à guarda do sábado. Os judeus que desprezavam os rituais religiosos eram excluídos da vida social da comunidade.


A boa notícia de que o filho de Deus já havia nascido e vivia entre eles, alvoroçou o povo ansioso por ver o descendente de Davi ocupar o trono e expulsar os invasores infiéis do país. “A pergunta de João a Jesus, ‘És tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?’, foi na verdade sussurrada por toda parte”. (Yancey, p 55).


Todos sabiam do risco iminente de destruição de Jerusalém, no caso de uma rebelião de grandes proporções, mas a esperança do triunfo alimentava a fé de que agora a história seria diferente. Eles não estavam mais sozinhos, a sua cidade sagrada jamais seria destruída e se transformaria em lugar de adoração para a glória de Javé dos exércitos. Conforme diz o texto de Isaías 31.5-6: “Como ave que abre as asas para proteger seus filhotes, assim Javé dos exércitos protegerá Jerusalém. Ele a protegerá e ela será salva; ele a poupará, e ela será liberta. Filhos de Israel convertam-se a ele desde o fundo da rebeldia de vocês”. Não passava pela cabeça de ninguém a hipótese de uma derrota.

Ao imaginar que o Messias estava por perto, os judeus sonhavam com um futuro de liberdade, onde os reis governariam com justiça promovendo o bem comum da sociedade. O ímpio já não existirá mais, porque se não tiver se convertido terá sido aniquilado devido à dureza de seu coração.

É neste cenário complexo que Jesus surge para estabelecer o seu reino. O sonho de uma nação está em jogo, muitas expectativas foram lançadas e esperam ser atendidas, mas algumas serão desapontadas. Conforme o apóstolo Pedro declarou em sua epístola: “De fato, nas escrituras se lê: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa. Quem nela acreditar não ficará confundido’. Isto é: para vocês que acreditam, ela será tesouro precioso; mas para os que não acreditam, a pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular, uma pedra de tropeço, e uma rocha que faz cair. Eles tropeçam porque não acreditam na Palavra, pois foram para isto destinados”. I Pedro 2.6-8


A DIFÍCIL CONCILIAÇÃO DAS AGENDAS


O objetivo da vinda de Jesus ao mundo era revelar ao ser humano que Deus se importava com os seus sofrimentos de tal forma, que decidiu encarnar-se e viver como homem para sofrer junto conosco a maldade e a injustiça, a fim de triunfar sobre ela.


As pessoas eram a prioridade de Jesus. Ele não tinha compromissos com sistemas políticos e não veio para satisfazer as esperanças deste ou daquele grupo. O seu interesse real era a libertação do ser humano dos esquemas políticos, econômicos e religiosos que o oprimiam promovendo o bem estar de poucos, à custa da miséria de multidões. "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido". Lucas 19.10.


Para alcançar o seu objetivo, Jesus misturou-se aos excluídos de seu tempo, com o intuito de lhes dizer face a face o quanto eles eram amados por seu Pai e estimular naqueles corações o desejo trazer à tona a imagem de Deus, reacender a chama divina, obscurecida pelo pecado e pela injustiça.


Neste sentido, Jesus representava uma ameaça a todo um sistema estabelecido sobre acordos políticos em que cada personagem desempenhava uma função pré-determinada onde não havia espaço para a contestação. Sua manifestação de revolta ao destruir as bancas dos mercadores no templo de Jerusalém, narrada no evangelho de João 2.13-16, foi uma atitude corajosa, que incomodou profundamente às autoridades, que vislumbraram o surgimento de um sério opositor.


A boa notícia que Jesus veio anunciar enchia de esperança os corações dos excluídos, daqueles que não tinham voz dentro da comunidade, mas não parecia tão boa assim para os que detinham o poder. O estabelecimento do Reino de Deus, necessariamente entra em confronto com as estruturas corrompidas de uma sociedade.


Não é possível dizer “O Reino de Deus está entre nós”, e tolerar a existência de pessoas morrendo de fome, de desempregados crônicos, excluídos do mercado de trabalho por falta de estudo. O pecado dos religiosos da época de Jesus foi afastar-se das pessoas de quem Jesus queria cuidar. Eles se encastelaram dentro do templo e não quiseram abandonar o conforto para servir a Deus. "Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes". Mateus 25.37-40. A concretização da esperança escatológica do Reino também passa pela assistência aos necessitados.


A agenda dos sacerdotes do tempo de Jesus estava tão cheia de compromissos com a instituição que eles não tiveram condições de reconhecer o momento em que o próprio Deus lhes oferecia a oportunidade para rever o seu caminho. O ativismo religioso aparentava dinamismo, mas foi um empecilho para que as pessoas pudessem receber o anuncio da melhor notícia de todos os tempos: Jesus, o Messias, o Filho de Deus, havia chegado para trazer vida em abundância.


CONCLUSÃO


O compromisso de Jesus com o Reino de Deus ia além dos limites demarcados pelas doutrinas da religião. Sua missão era trazer a liberdade, a paz e a justiça para este mundo, mas as suas armas não eram de guerra e o seu exército não possuía militares treinados para matar. Enquanto o povo esperava um discurso inflamado contra o inimigo, ouviu a mensagem do perdão. Definitivamente este Reino era diferente. Para compreendê-lo seria necessário abrir a mente e o coração para ouvir a voz de Deus e conhecer um pouco mais do seu projeto infinito para a humanidade. A libertação do Reino não somente política, mas torna o homem livre de todo o tipo de opressão que tenta apagar em seu coração o sopro sagrado de vida, que o criador concedeu aos seus filhos.


PERGUNTAS
1. Que expectativas da sociedade a igreja brasileira precisa confrontar, para ir adiante na luta para o estabelecimento de uma sociedade mais justa?
2. Como a igreja Brasileira pode anunciar a Boa Notícia do Reino de forma eficaz para o século XXI?


NOTA



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Israel Belo – O Que é Missão Integral – Organizado por Waltair A. Miranda – Rio de Janeiro – MK Editora – 2005.


BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.


Bíblia - Tradução Ecumênica - Edições Loyola - Paulinas - Direção da Ed. Brasileira: Gabriel C. Galache


BOFF, Leonardo - O Senhor é o Meu Pastor - Consolo divino para o desamparo humano - Rio de Janeiro - Sextante - 2004.


BOFF, Clodovis e BOFF, Leonardo – Como Fazer Teologia da Libertação – Editora Vozes – Petrópolis – 2001


CAVALCANTE, Robinson. A Igreja, o País e o Mundo. Ultimato - Viçosa – MG 2000.


GUTIERREZ, Gustavo, Teologia da Libertação – Tradução de Jorge Soares - Ed. Vozes – Petrópolis – RJ – 1979.


VICHI, Marcos - Jesus é a Palavra que Revela Deus aos Homens – Blog Compartilhando Palavras - extraído em 30/08/08 do seguinte site: http://compartilhandopalavras.blogspot.com/2006/08/jesus-palavra-que-revela-deus-aos.html


YANCEY, Philip, O Jesus que Eu Nunca Conheci – Tradução Yolanda M Krievin – Ed. Vida – São Paulo – SP – 2002

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