quarta-feira, agosto 11, 2010

Por que Persiste a Igreja-Poder? Leonardo Boff

Por que Persiste a Igreja-Poder?

Leonardo Boff

Vou abordar um tema incômodo mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: “só porque é divina”. Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autorreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de “igreja” a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então cardeal Joseph Ratzinger, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o “doce Cristo na Terra”. Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traido ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o “sentir com a Igreja (hierarquia)”, bem no estilo fascista segundo o qual “o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão”.

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelissimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuimos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

Leonardo Boff é teólogo e escritor

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá querida e amada irmã em cristo Jesus, andei lendo o teu blog compartilhando palavras e achei sensacional o trabalho envangelistico que voce faz através deste, mais fiquei cabisbaixo foi com a sitação Por que persiste a igreja-poder? Ta certo que cada um tem sua liberdade de se expressar, seu livre harbitrio,apesar de tudo estamos em um pais democratico.Você cita bastante um ataque a nossa Igreja catolica mãe de todas as religiões no qual a respeito muito, fiquei um pouco ofendido. Ta certo de que no passado nossa igreja teve bastante erros demasiados e crueis mais o dito romano "Nossa igreja é santa mais também é pecadora" será que voce não parou para refletir que se não existisse o catolicismo não existiria o PROTESTANTISMO? E embasando mais o assunto:
T
rês sociedades religiosas se dizem cristãs:

a - A Igreja Católica, a mais antiga e mais difundida;

b - As igrejas grega e russa, separadas há séculos da Igreja Católica;

c - As confissões religiosas protestantes, separadas da Igreja Católica no século XVI e subdivididas em inumeráveis seitas.

Pois bem, só uma Igreja pode ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, porque Ele não fundou mais que uma. Esta Igreja de Cristo é a Igreja Católica.

1ª prova - A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é aquela na qual se encontra o legítimo sucessor de Pedro, porque foi a Pedro que Jesus deu as chaves do Céu, e a quem colocou como Pastor supremo de seus cordeiros e de suas ovelhas. E o legítimo sucessor de Pedro é o Bispo de Roma. Logo...

2ª prova - Cristo, para a conservação e difusão de sua doutrina, que é a base de toda religião, instituiu uma autoridade viva, infalível e perpétua: “Eu estarei convosco até a consumação dos séculos”. Esta autoridade viva, infalível e perpétua não pode encontrar-se senão nos sucessores de Pedro e dos Apóstolos.

3ª prova - A Igreja fundada por Jesus Cristo deve ser una, santa, católica e apostólica. Estas são as quatro notas distintivas da verdadeira Igreja. Estas notas ou sinais evidentemente traçados no Evangelho, inseridos no Símbolo dos Apóstolos e no de Nicéia, correspondem exatamente à Igreja Católica, e só a ela.

Conclusão

A Igreja Romana é, pois, a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo, porque Cristo não fundou mais que uma Igreja, como também não ensinou mais que uma doutrina, nem instituiu mais que um chefe.

Nenhuma das sociedades religiosas separadas dela possui unidade de doutrina e de governo; nenhuma produz santos, cuja santidade seja confirmada por milagres; nenhuma se remonta até Jesus Cristo; e nenhuma tem por superiores legítimos os sucessores dos Apóstolos. Estas sociedades religiosas nem sequer têm a pretensão de possuir em seu seio o legítimo sucessor de Pedro, cabeça e centro de toda a Igreja. Por conseguinte, não são a Igreja de Jesus Cristo.

Paz e Bem no poderio do Senhor Jesus!