quarta-feira, junho 11, 2008

DEUS, VIDA E DIGNIDADE


JUSTIÇA SOCIAL TAMBÉM É VIDA DEVOCIONAL


Texto Básico: Amós capítulo 5.

Mensagem – 01 – Amós 5.4-7



DEUS, VIDA E DIGNIDADE

“Assim diz Javé à casa de Israel: Procurem a mim, e vocês viverão. Não procurem Betel, não façam romarias a Guilgal, nem corram para Bersabéia. Pois Guilgal irá toda para o exílio e Betel será reduzida a nada. Procurem a Javé, e vocês viverão. Senão, ele virá como um fogo sobre a casa de José e a queimará, e em Betel não haverá quem o apague. Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra.” Amós 5.4-7


O mundo é complicado, para qualquer lado que se olhe é possível observar que algo está fora da ordem. A grande expectativa das pessoas é perceber a intervenção de um poder superior, que promova num passe de mágica, aquilo que não temos sido capazes de produzir ao longo dos séculos: Justiça.

A bíblia registra em suas páginas episódios destas intervenções, e revela a sutileza da ação divina ao longo da história humana. Ao invés de buscar os holofotes e os poderosos do momento, Deus escolhe os mais simples, provenientes dos lugares mais afastados para, junto com eles, iniciar um processo de transformação que começa no dia-a-dia do povo, e produzirá um impacto espiritual profundo.

Amós era um simples vaqueiro que vivia tranqüilamente cuidando de algumas cabeças de gado em seu sítio, quando foi chamado por Deus para denunciar e “colocar em polvorosa todo um regime de injustiças”. O comprometimento do profeta em proclamar esta mensagem despertou o povo de Israel no século oitavo antes de Cristo, e ainda hoje toca os corações daqueles que consideram a justiça social como fator determinante da vida devocional da igreja e da sociedade. A mensagem de Amós incomodou aqueles que queriam que tudo permanecesse no mesmo lugar, porque ele ia direto ao assunto:


1. Amós Denunciava o Mal que Provocava o Afastamento de Deus. "Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra”.

Primeiro pecado: torcer o direito em favor dos privilegiados.

Como em todas as épocas, os ricos da terra de Amós, desfrutavam das facilidades que podiam comprar com o dinheiro que possuíam. Não contentes com isso, eles ainda buscavam comprar vantagens adicionais, subornando as autoridades para burlar a lei, que pretendia produzir a igualdade entre os diversos estratos sociais daquela nação.

A aliança entre o poder político e o religioso garantia o silêncio necessário para preservar a boa imagem dos poderosos na sociedade. Seria o plano perfeito, se não aparecesse um profeta impertinente para revelar com todas as letras possíveis o que estava sendo feito às escondidas: “Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra”.

O direito se transforma em veneno quando ele legaliza os meios de opressão e, ao invés de proteger o necessitado, amplia a miséria onde ele vive. Uma das formas de se lançar o direito por terra naquela época era o pesado sistema de impostos que sacrificava o povo, para sustentar os governantes e sacerdotes.


Segundo pecado: desprezar a justiça em nome da conveniência.

Quando acontece da notícia de um crime tomar proporções nacionais, é comum ouvir-se o clamor pela justiça contra os acusados, mas quantas vezes, em nosso dia-a-dia, permitimos que as injustiças aconteçam sem que isto nos incomode. O caso Isabela causou indignação, mas quantas outras crianças sofrem abusos, são feridas e mortas, sem que ninguém diga uma palavra em protesto? É necessário que a justiça seja feita neste crime, mas é fundamental que a partir daí, ela se espalhe como um rio de águas purificadoras, que procede do trono de Deus, para saciar a sede tantas famílias, que hoje padecem esquecidas.

O que a Igreja de Cristo pode fazer para encontrar caminhos para solucionar os problemas da comunidade em que ela vive? Como oferecer às crianças, em situação de risco, um futuro diferente do tráfico ou da prisão, ao qual elas parecem previamente condenadas?

2. Amós Alertou que Não Existem Atalhos no Relacionamento com Deus. “Não procurem Betel, não façam romarias a Guilgal, nem corram para Bersabéia. Pois Guilgal irá toda para o exílio e Betel será reduzida a nada. Procurem a Javé, e vocês viverão. Senão, ele virá como um fogo sobre a casa de José e a queimará, e em Betel não haverá que o apague”.

Os falsos profetas falavam o que o povo queria ouvir.

O sistema religioso é considerado a reserva moral de uma nação. Quando tudo falha, o povo espera de seus sacerdotes a atitude para trazer o equilíbrio necessário para restaurar a ordem. Como exemplos de líderes religiosos que lutaram pelo estabelecimento da justiça entre o seu povo é possível citar: Os monges budistas do Tibet, que se levantaram em protesto contra o domínio chinês, o arcebispo de Brasília, Dom João Brás de Avis, que durante um missa na câmara dos deputados, condenou o aumento que eles haviam se concedido.

“Como aceitar que um parlamentar ganhe R$ 800,00 por dia, quando boa parte das pessoas que representam é obrigada a viver com R$ 12,00 (por dia)? Como aceitar que o Judiciário legisle em alguns casos em seu favor, sem demonstrar sensibilidade para com o povo para o qual as leis são feitas? Atitudes como as que temos visto nestes dias matam o espírito de Natal”. 1

Como resultado daquela palavra corajosa denunciando um abuso, o aumento foi suspenso.

"Surpreendidos pela repercussão negativa nas ruas, na Igreja e nos movimentos sociais, deputados e senadores tentaram evitar o desgaste de votar, em plenário, novo percentual de reajuste para seus subsídios nesta legislatura. Envergonhados e pedindo desculpas à sociedade, e sem uma proposta de consenso que pudesse melhorar a imagem do Congresso Nacional, líderes e o presidente da Câmara, (...), desistiram, na noite desta quarta-feira, depois de muito bate-boca, da decisão de elevar os subsídios para o teto de R$ 24.500,00 - vetado na véspera pelo Supremo Tribunal Federal - ou mesmo aprovar um reposição inflacionária, que elevaria os atuais R$ 12.720,00 para R$ 16.475,00."(1)

Martin Luther King, lutou pelos direitos civis dos negros americanos e Mahatma Ghandi, com a sua resistência pacífica, lutou contra o domínio britânico e pela independência da Índia.

Quando os profetas se corrompem, eles ganham prestígio, por não entrar mais em confronto com os poderosos ao falar aquilo que eles desejam ouvir, mas a sociedade perde parte importante de seu poder de mobilização.

O pecado de Israel é quase sempre relacionado à idolatria, mas uma observação atenta à mensagem dos profetas, mostrará um Deus indignado com a exploração social que condenava os mais pobres, do povo que ele escolheu, a uma vida indigna e sem esperança.
Soluções superficiais produzem decepção.

Calar-se diante do mal traz benefícios imediatos, que podem durar bastante tempo, mas eles têm dia e hora para acabar. Soluções superficiais tendem a agravar um mal, que se fosse adequadamente tratado, teria uma solução mais rápida e eficaz. É mais fácil retirar os mendigos das ruas e esconde-los em albergues afastados, do que promover políticas que permitam a inclusão desas pessoas no mercado de tabalho.

O problema é que para encarar a sua estrutura corrompida a sociedade precisa encarar a si mesma e reconhecer a sua participação neste pecado. Isto fere o orgulho próprio, incomoda e exige o desejo se envolver com os excluídos, com o objetivo de inseri-los na comunidade. Este processo longo e tedioso favorece aos profetas de ocasião, valorizando as suas mensagens que falam muito sem nada dizer, mas aliviam as consciências culpadas.

A arte, que se expressa através da música, do teatro, da dança da pintura, etc, se apresenta como um instrumento importante para dizer a verdade, tocar os corações e promover mudanças na sociedade. O criador da logomarca da cidade de Nova York fez o seguinte comentário sobre a importância da arte: "É preciso fazer coisas que mexam com a mente, Se você diz algo diretamente, não será ouvido. A arte, pela música, pela poesia, etc, Faz com que as pessoas compreendam A mensagem que precisam ouvir."


3. Amós Mostrou o Caminho que Deveria ser Seguido. “Assim diz Javé à casa de Israel: Procurem a mim, e vocês viverão”.

Só Deus resgata a dignidade do ser humano.

Cada pessoa é um projeto infinito e precisa ser respeitada no seu direito de possuir condições para alcançar uma vida melhor para si e para a sua família.

Promover a dignidade do ser humano glorifica ao Senhor. Somos imagem e semelhança de Deus. Não podemos permitir que o nosso próximo seja humilhado, e que outros venham a obter lucros explorando a sua miséria.

Buscá-lo produz vida.

Vida abundante, porque a solidariedade humana se transformará num dos braços da providência divina no momento em que as dificuldades chegam. Nas comunidades carentes o sofrimento é amenizado porque as pessoas se importam com o drama das outras. Apesar de possuírem pouco, eles não se importam e dividir com o outro, quando sabe que isto poderá saciar a sua fome. É interessante perceber como esta atitude se aproxima do ideal de amor que Jesus requer daqueles a que ele chamará de “Benditos de Meu Pai” no dia do grande julgamento.

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mateus 25.34-40


Buscá-lo produz paz.

Buscar a Deus resulta numa vida em paz por que a pessoa mantém a sua esperança na realização do Reino de Deus que foi prometido e que se estabelece à medida que a igreja levanta a sua voz profética em defesa da Justiça. “Abra a boca em favor do mudo e em defesa dos desfavorecidos. Abra a boca e dê sentenças justas, defendendo o pobre e o indigente”. Provérbios 31.8-9.

Conclusão

A igreja se torna relevante em sua comunidade à medida em que ela assume de corpo e alma o ministério de promover a dignidade de seus pobres de seus excluídos e lhes mostra o evangelho como um caminho que proporcionará a libertação espiritual do pecado, que os afasta de Deus e a libertação social, que os fará descobrir que eles podem ser protagonistas de suas vidas e não meros figurantes que se sacrificam, para produzir a riqueza de outros, sem nunca poder usufruir dos resultados do seu trabalho.
O Evangelho não é um projeto político, mas a sua vivência integral influencia todas as esferas da sociedade e faz da igreja um poderoso agente de transformação.

Nota e Referencias

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