quinta-feira, novembro 26, 2009
RECICLAGEM DE LIXO E COLETA SELETIVA
Reportagem detalhada sobre o lixo gerado na cidade de São Paulo. Idéias criativas para dar um destino correto para o lixo, em casa.
Reportagem: Clara Vanali
Edição: Elvis Petrorenzo
Imagens: Gustavo Borges e Antonio Pimentel
Supervisão: Marcelo Dias
Vídeo produzido pela TV Mackenzie, exibido no programa Recorte em Dezembro/2008
Edição: Elvis Petrorenzo
Imagens: Gustavo Borges e Antonio Pimentel
Supervisão: Marcelo Dias
Vídeo produzido pela TV Mackenzie, exibido no programa Recorte em Dezembro/2008
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domingo, novembro 22, 2009
O SACO - Rubem Alves
O SACO
Rubem Alves
Como parte do meu programa de rejuvenescimento – pois estou firmemente decidido a voltar a ser criança – entreguei-me às delícias da leitura do livro de Jonathan Swift, Viagens em Diversos Países Remotos do Mundo, em quatro partes, por Lemuel Gulliver, a Princípio Cirurgião e, depois, Capitão de vários Navios, vulgarmente conhecido pelo título abreviado de As Viagens de Gulliver. O que é uma pena, pois a abreviação omite uma informação, valiosíssima para todos os moços que hoje ou estão na euforia de haverem passado no vestibular, ou na tristeza de não terem passado; informação sobre os descaminhos da escola profissional, pois o herói, que era cirurgião, de repente, lá no meio da vida, percebeu que havia feito o vestibular errado, não deveria ter entrado na escola de medicina, pois o que ele desejava mesmo eram as aventuras de comandar navios por mares desconhecidos.
Se acham que isso é impossível, eu digo que não, pois tenho um amigo que, vivendo nas Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos, e com a profissão de médico de almas, pastor protestante, disse adeus a tudo e me escreveu uma carta logo antes de partir de viagem, no comando do seu primeiro navio.
O prazer da leitura hoje, quando estou navegando ao contrário, da velhice para a infância, é totalmente diferente daquele que tive quando li o livro pela primeira vez, quando eu navegava da infância para a velhice. Só se pode ser criança direito depois de ter sido velho. Pois, naquele tempo, eu não podia entender o que ele estava dizendo, coisas que entendo agora e, se na minha viagem de volta à infância, eu não chegar à idade de desaprender a escrita, haverei de contar algumas das maravilhas que Gulliver relata.
Por hoje, interessa-nos a visita que ele faz a uma famosa instituição de ensino superior no país de Lagado, que reunia muitos pesquisadores de renome, parecida, eu imagino, com as nossas universidades. Pois ali, entre os mais diversos projetos de investigação científica, havia os lingüistas, que se dedicavam a aperfeiçoar a linguagem do seu país, com o objetivo de facilitar a compreensão entre os homens. Convencidos de que muitas brigas e desavenças se deviam apenas a desentendimentos provocados pela ambigüidade das palavras, concluíram que tais querelas desapareceriam totalmente se as palavras, fonte dos desentendimentos, fossem substituídas pelas coisas que elas devem significar. Os filósofos e cientistas abandonaram então o uso da palavra e passaram a carregar em sacos os objetos sobre os quais queriam falar. E ele relata: Vi muitas vezes dois sábios quase caindo ao peso de seus fardos os quais, quando se encontravam na rua, punham no chão a carga, abriam os pacotes e conversavam durante uma hora, em seguida guardavam os apetrechos, ajudavam um ao outro a pôr o fardo às costas e despediam-se.
Se esse novo jeito de comunicação eliminava os desentendimentos, tinha certos inconvenientes. Por exemplo, um zoólogo teria dificuldades em arrastar seu saco de animais pelos caminhos, não só porque ele deveria ser do tamanho da Arca de Noé, como também pela confusão que os animais aprontariam.
E aí eu pensei se não deverá ser muito maior que a Arca de Noé o saco dos nossos pobres adolescentes, arrastando o seu saber para fazer seus exames vestibulares. Se disserem que idéias não têm peso e nem ocupam espaço, direi que estão redondamente enganados. A mente tem sua própria geometria e sua própria física. E o problema é que eles deverão levar elefantes, dinastias de faraós egípcios, batalhas, bibliotecas inteiras, países e mares, pois nunca se sabe sobre o que versará a conversa do tal exame.
Pelo que Gulliver relata, o projeto foi abandonado por razões óbvias. O corpo não é trouxa de ficar arrastando um saco daquele tamanho. E é justamente isso que vai acontecer com os que passaram no vestibular: já que eles sabem que não mais terão necessidade de falar sobre aqueles assuntos todos, e nem haverá ocasiões para tal, eles irão progressivamente esvaziando o saco das inutilidades que ali foram colocadas, até chegarem à condição bem-aventurada de professores universitários, que só carregam nos seus sacos aquilo de que têm necessidade nos seus afazeres. Pois essa é uma lei de memória: aquilo que não é usado, é esquecido. O vestibular, assim, revela-se apenas um penoso, dolorido e obtuso exercício mental, cujos resultados estão condenados ao quase total esquecimento. Tenho feito e repetido um desafio, que ninguém se atreveu até hoje enfrentar: que os professores universitários, com seus mestrados e doutoramentos, se submetam aos ditos exames, do jeitinho como os adolescentes, para testar a sua performance. Minha aposta é que uma altíssima porcentagem seria reprovada, eu entre eles, o que não quer dizer que os professores sejam incompetentes: quer dizer apenas que o tal exame não faz sentido. Desafio os responsáveis pelos vestibulares a fazerem essa prova no ano que vem, só pelo humor dos resultados...
Começa agora um novo estágio: os que passaram podem se entregar às delícias do esquecimento, esvaziar o saco. Os que não passaram, se matricularão nos cursinhos para preencher os seus sacos que não estavam suficientemente cheios, na esperança de que o dia chegará em que poderão esvaziá-los para só colocar dentro deles o que fizer sentido para sua vida e trabalho.
7/2/94
UM PAPO SOBRE RACISMO - Rodrigo Quaresma
UM PAPO SOBRE RACISMO
Rodrigo Quaresma
“Já pretenderam apressadamente: o preto se inferioriza. A verdade é que ele é inferiorizado.” FANON *
Niterói. Segunda-feira, 16 de novembro. Após estudar durante algum tempo na biblioteca da UFF, caminho pelas ruas rumo a uma farmácia em busca de alguns artigos pessoais. Logo de entrada na loja sou recebido por um olhar fulminante do segurança – um misto de estranheza, curiosidade e atenção. A cor do segurança? Negro.
Passeio então pela farmácia, olhando as prateleiras, tateando os produtos, enquanto percebo a atenção policialesca do segurança sobre mim. “Coisa da minha cabeça?” Continuo procurando os meus artigos, lendo os rótulos, vendo os preços... Para desencargo de consciência resolvo fazer um teste: mudo de prateleira, avanço pela loja adentro e, quando menos espero..., estou novamente sobre o campo de visão do segurança: ele me acompanha “disfarçadamente”...
Por fim, tendo escolhido os meus artigos, encaminho-me ao caixa da loja; antes, no entanto, como num golpe inesperado, paro, estaco na frente do “segurança negro” e busco os seus olhos – “farei um discurso? Gritarei: traidor! Capitão do mato!?”-, mas não os acho, eles estão baixos, ele não me olha, não ousa me fitar: ele sabe que eu sei; eu sei que ele sabe.
Contemplo sereno então o meu irmão de cor que ainda se encontra com a mente colonizada. Serenidade esta, no entanto, que não se confunde com a negação da realidade e tampouco com a incapacidade de se indignar; falo de compaixão.. Nesse caso específico não havia nada mais a ser feito**, a não ser observar pedagogicamente a dinâmica do racismo. Foi o educador Paulo Freire quem nos ensinou que o oprimido introjeta o opressor.
Vejam bem, eu não fui impedido de entrar naquela farmácia; não havia em sua entrada nenhuma placa dizendo “proibido a entrada de negros”. Também não fui expulso da loja, tampouco fui agredido física ou verbalmente (ainda que tal evento se constitua como uma agressão psicológica). Mas a minha cor, meus traços e tipo de cabelo (e não minha condição sócio-econômica), me impediram de passar despercebido naquela loja. Ali não pude ser apenas mais um consumidor. Fui “racializado”; recebi um tratamento “especial”..
Coisas desse tipo acontecem comigo e com outros negros e negras diariamente. Quando chego num ponto de ônibus à noite e as pessoas lentamente se afastam; quando caminho pelas ruas e tento ultrapassar uma pessoa e sou percebido com espanto por alguém que acha que será assaltada; quando no ônibus alguém desiste de sentar ao meu lado após me “olhar direito”; quando os vendedores de uma loja fingem que não me vêem; quando o garçom passa direto pela minha mesa sem me notar; quando pergunto a hora pra alguém na rua e a pessoa toma um susto; quando o sistema de segurança de um banco se endurece ao me receber: a saga de passar pela porta-giratória; todos os olhares e toda atenção naquele momento ( ih, a porta travou: será que ele é assaltante?); quando estou no ônibus e numa blitz somente os negros são revistados; quando sou abordado na entrada de prédios comerciais e indagado sobre o meu destino no mesmo (em lugares que isso não é o procedimento padrão); quando caminho abraçado com minhas amigas brancas pelas ruas e somos recebidos com certo tom jocoso, um riso de canto de boca de alguém que encontrou uma explicação genital para a nossa relação, enfim... São múltiplas injunções racistas que incidem sobre a emocionalidade negra e a constrangem; e ainda que possa variar, isso é um drama comum. Desnecessário dizer que tudo isso me afeta em profundidade e concorre para a limitação da minha expressão como pessoa humana.
Penso que tais fatos são bem ilustrativos do nosso modelo de relações raciais. Para subjugar e excluir nosso país pode prescindir de segregação legal; e isto, penso eu, menos por virtude do que por falta de necessidade. É pelo silêncio e pela invisibilidade que o nosso racismo opera. Fala-se, com efeito, do que se convencionou chamar “racismo do negro”. Tal expressão, no entanto, é ideológica uma vez que a auto-rejeição do negro e a rejeição dos seus pares é uma atitude aprendida e aprovada socialmente, sendo, em verdade, produto do próprio racismo. É comum que os negros e negras se neguem numa sociedade em que os referenciais simbólicos positivos são brancos.
Esta é então a contribuição que eu gostaria de dar ao nosso 20 de novembro: o testemunho de minha experiência existencial como sujeito negro. Penso que o dia da consciência negra deva ser celebrado por todos os segmentos raciais da sociedade brasileira, constituindo-se num momento privilegiado de reflexão das relações étnicas e raciais em nosso país, trabalhando no sentido de ressignificar e redimensionar o inenarrável contributo africano e afrodescendente ao Brasil.
Sim, consciência negra. Não que a consciência tenha cor, mas porque é preciso trazer a cor à consciência. Para que a minha irmã de cor não se sinta obrigada a alisar o seu cabelo; para que o homem negro não se sinta obrigado a raspar a cabeça (cabelo “ruim”); para que a mulher negra se sinta bonita; para que a criança negra não tenha vergonha da sua cor, do seu cabelo e lábios; para que as mães negras não coloquem pregadores nos narizes dos seus filhos/as; para que a criança negra não seja chamada de macaca na escola; para que o nosso sofrimento não seja motivo de graça.
Valeu ZUMBI!
*FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
** Em outros momentos será preciso agir de forma mais afirmativa, seja apelando para mecanismos jurídicos ou através de ações diretas.
sábado, novembro 21, 2009
OS CONTRASTES DA CIDADE GRANDE III – SEPARAÇAO X CONVIVIO
RECURSOS
Música: Minha gente do Morro – Clara Nunes
Para ouvir clique aqui
NOTAS
1.LOPES, Nei. Radiografia Carioca.
http://www.almacarioca.com.br/hist06.htm
2. Site: Favela Tem Memória: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=3
3. Site Favela Tem Memória: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=21&infoid=8&sid=7
4. Idem
5. Ibidem
6. http://letras.terra.com.br/clara-nunes/843930/
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas — tradução Marcus Penchel. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos — tradução Carlos Alberto Medeiros — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004
BAUMAN, Zygmunt, Vida Líquida – tradução: Carlos Alberto Medeiros — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007
BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra – Vozes – Petrópolis – RJ – 1999
BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.
LOPES, Nei. Radiografia Carioca. http://www.almacarioca.com.br/hist06.htm
http://literaturaeriodejaneiro.blogspot.com/2007/12/um-bom-pretexto.html
http://www.flickr.com/photos/ze_lobato/149803889/
http://www.fotolog.com.br/luiz_o/64036158
http://www.bíbliaonline.com.br
http://letras.terra.com.br/clara-nunes/843930/
http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=3
http://letras.terra.com.br/clara-nunes/843930/
sexta-feira, novembro 20, 2009
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