quarta-feira, janeiro 09, 2008

O REINO DE DEUS VI - O REINO DOS MAIS FRACOS



O REINO DOS MAIS FRACOS
“Naquele tempo Jesus disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Meu pai entregou tudo a mim. Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”. Mateus 11.25-27

Vivemos numa sociedade de fortes e habilidosos, que é voltada para o acumulo de bens. Nela se destacam os inteligentes e os que produzem muito gerando baixo custo. Qualquer sinal de fraqueza é tido como falha, que não pode ser admitida. Os que estão fora do padrão não têm escolha: ou se ajustam às regras do mercado, ou serão excluídos sem misericórdia.

O Reino de Deus inverte estas prioridades. Nele os fracos são privilegiados e aos pequeninos são revelados os mistérios do Pai. Por que os sábios e os fortes foram colocados em segundo plano nas questões espirituais? Existe alguma injustiça da parte de Deus?


1. Quem São os Pequeninos de Nosso Tempo?

Entre tantos que podem ser citados como pequeninos, um grupo significativo é o dos desempregados. Milhões de pessoas que por diversos motivos foram demitidas e agora enfrentam dificuldades para recolocar-se no mercado de trabalho. A falta de emprego compromete a estabilidade familiar, a qualidade de vida e dificulta o investimento no aprimoramento intelectual, que é necessário para obter as melhores colocações neste ambiente tão competitivo. A situação complica-se quando as contas começam a se acumular e as perspectivas de ingresso financeiro demoram a aparecer.

Outra categoria de pequeninos é a dos sem teto. Eles chegaram a um nível tal de pobreza, que perderam as suas moradias e hoje fazem da rua o seu lar. Algumas famílias já estão na segunda geração exposta a esta violência. Por estarem fora da cadeia produtiva, os sem teto não possuem poder de consumo. São considerados zero econômicos e, por isso, são tratados como refugo nesta sociedade excludente.

A terceira categoria a ser abordada é a dos enfermos. Quando prolongada, a doença desequilibra psicologicamente a família e o paciente. A enfermidade não escolhe classe social, idade ou nível cultural, mas une ricos e pobres, doutores e analfabetos na mesma dimensão da fragilidade do ser humano.


2. Por Que a Força Pode Atrapalhar?

Quem é forte acha que não precisa de ninguém. Esta atitude leva ao isolamento e traz problemas, pois se a crise fugir do controle a pessoa poderá não encontrar socorro disponível, pelo simples fato de que ninguém saberá de que ela precisa de ajuda.

Algo parecido acontece no relacionamento com Deus. Este relacionamento é alimentado pelo contato constante e pela renovação das experiências. Sempre que precisamos, recorremos à lembrança mais recente de seu amor e somos confortados. Quando não cultivadas, as experiências se tornam raras e chegará um momento em que elas serão esquecidas.

Jesus lidava com pessoas muito experientes em matéria religiosa, que possuíam autoridade para mostrar aos menos esclarecidos o caminho para encontrar-se com Deus. Estes líderes se tornaram fortes, política e religiosamente, mas esqueceram-se da misericórdia enquanto exerciam o poder e deixaram de se importar com a vida do seu rebanho.

Era contra estas distorções que Jesus protestava ao afirmar que o Pai escondeu a revelação dos seus mistérios aos sábios e inteligentes de seu tempo. Eles eram mestres na religião, mas não tinham condições de perceber a presença divina, pois tinham o seu coração fechado. O poder lhes trouxe a ilusão da auto-suficiência e os afastou de Deus.


3. A Vulnerabilidade que Abençoa

É entre os humildes que encontramos as demonstrações mais significativas de fé. Eles reconhecem que precisam de alguém e sabem que sozinhos não irão muito longe. Por isso estão dispostos a receber e oferecer solidariedade. Esta abertura de alma os permite identificar a atuação divina nos mínimos detalhes.

Os pequeninos desejam ouvir a voz de Deus, da mesma forma que a criança anseia pela presença dos seus pais. Conseqüentemente, eles desenvolvem um relacionamento fundamentado no amor e não na expectativa de receber algo em troca. É esta qualidade que os habilita a conhecer os maiores segredos que o Pai deseja lhes revelar.

Deus não se impressiona com títulos acadêmicos e cargos de autoridade nas esferas religiosas ou governamentais, mas a fé simples, exposta por um coração quebrantado, o emociona: “Quando ouviu isso Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: Eu garanto a vocês: nunca encontrei uma fé igual a essa em ninguém em Israel!” Mateus 8.10.

4. O Mistério é Revelado

As pessoas se aproximavam de Jesus com interesses diversos: uns desejavam a cura, outros estavam curiosos para conhecer a celebridade do momento, havia os que queriam ouvir uma mensagem de esperança, mas um grupo em particular o incomodava: aqueles que queriam utilizar-se do Reino de Deus como forma de obtenção de prestigio social. Jesus recusava-se a exibir demonstrações banais de poder. “Mas ele lhes respondeu, e disse: "Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas”. Mateus 12.39.

A condição primordial para conhecer os mistérios do Deus é crer que ele existe e que deseja comunicar-se com os que o procuram: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. Hebreus 11.6.

Os pequeninos, espiritualmente falando, são aqueles que reconhecem que dependem de Deus e desejam relacionar-se com ele simplesmente porque o seu coração se alegra por desfrutar de sua presença. A estes, o Pai se agrada em manifestar-se e tornar conhecidos os seus planos.

“Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”. Jesus, o filho, conhece o Pai integralmente. Sem o seu auxílio jamais conseguiríamos estabelecer a comunhão com Deus. A sua vinda ao mundo abriu um elo de comunicação fundamental entre o homem e o seu Criador. A revelação do mistério de Cristo não está oculta num esconderijo inviolável, mas só será disponibilizada àqueles que enxergam o Reino de Deus como um lugar onde ser forte, é demonstrar misericórdia e onde a vitória se realiza, quando a justiça é feita ao pobre e quando o rejeitado pela sociedade se sente acolhido e amado por Deus.


Conclusão

O Reino pertence aos fracos, porque não apresenta qualquer obstáculo a quem tenha um sincero desejo de relacionar-se com Deus. Ele representa a nossa esperança de que veremos a justiça triunfar e de que não será mais necessário fingir ser aquilo que não somos, pois o Pai nos aceita tal qual estamos.


Referências
BOFF, Leonardo - Ethos Mundial - Rio de janeiro - Sextante – 2003.

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