“Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida. (...) Por isso eu exalto a alegria, porque não existe felicidade para o homem debaixo do sol, além de comer, beber e alegrar-se. Essa é a única coisa que lhe serve de companhia na fadiga, nos dias contados de vida que Deus lhe concede debaixo do sol”. Eclesiastes 3.12 e 8.15
O conceito de alegria e de prazer no livro do Eclesiastes, é considerado como a recompensa por uma vida dedicada ao trabalho. Para o Coélet 1, a verdadeira felicidade seria desfrutar dos resultados da colheita acompanhado da família e de seus amigos. Sem isso, todo o esforço teria sido em vão.
A era pós-moderna subverteu estes conceitos disseminando a idéia de que todo o tempo livre precisa ser preenchido com alguma atividade excitante, e de que a felicidade está em consumir todos os produtos lançados no mercado. Para suprir estas carências precisamos de dinheiro, e por isso trabalhamos cada vez mais.
"(...) O segredo da sociedade atual está ‘no desenvolvimento de um senso de insuficiência artificialmente criado e subjetivo’ — uma vez que ‘nada poderia ser mais ameaçador’ para seus princípios fundamentais ‘do que as pessoas se declararem satisfeitas com o que têm’. O que as pessoas têm de fato é assim diminuído e denegrido pela insistente e excessiva exibição de aventuras extravagantes pelos mais favorecidos: ‘Os ricos se tornam objetos de adoração universal’.” 2
No final de semana, ou quando as férias chegam, nosso maior desejo é relaxar, para repor as energias. Sempre que é possível tento escapar para lugares tranqüilos, com natureza exuberante e vista bonita. Por este motivo é que considero um privilégio morar no Rio de Janeiro, que possui praia, montanha e zona urbana na mesma cidade.
Ao longo dos anos, alguns parques e reservas naturais vêm sofrendo com a degradação, provocada pela ação predatória do ser humano e deixaram de ser um espaço de lazer, para se tornarem focos de doenças e outros problemas. Pouco a pouco, vamos deixando de olhar para a nossa cidade como um lugar de alegria e comunhão com as pessoas. Aonde vamos chegar neste ritmo? Que herança restará para os nossos filhos e netos aqui no planeta terra?
O sábio escritor do Eclesiastes afirmou: “E cheguei à seguinte conclusão: Deus fez o homem correto, mas o homem inventa muitas complicações”. 3 Fomos criados com a habilidade de sermos felizes e de proporcionar felicidade aos que estão ao redor, mas o nosso estilo de vida produz pessoas cada vez mais tristes e isoladas.
O caminho para romper com este ciclo vicioso passa pela redescoberta dos sentimentos de afeto em relação ao nosso semelhante e ao planeta terra, que é a nossa casa e precisa de cuidados urgentes. Não adiantará nada ganhar toda a fortuna do mundo, se não tivermos onde nem com quem desfrutar de seus benefícios.
NOTAS
1.Coélet é a forma aportuguesada do hebraico Qohélet, termo utilizado pelo autor para referir-se a si mesmo.
2.Bauman, Zygmunt,Globalização: as conseqüências humanas, p.91
3.Eclesiastes 7.29.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt,Globalização: as conseqüências humanas tradução Marcus Penchel. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999
BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991
Um comentário:
É verdade!
Para conseguirmos deixar um pouco de lado a ambição exagerada é preciso redescobrir os sentimentos pela nossa terra, nossa família, amigos, pois isso sim nos traz alegria de verdade. Temos que ver alegria na natureza, no lar.
Beijos
Postar um comentário