O nível do debate político entre os evangélicos nestas eleições anda mesmo sofrível. Não aguento mais receber e-mails pintando a Dilma como o Diabo e recomendando o voto no Serra que, segundo os remetentes, é o candidato que vai salvar o pais da iniquidade institucionalizada lulopetista.
Estas mensagens, cuja maioria eu deleto sem ler, me recordam o ano de 1989, quando os evangélicos se mobilizaram para detonar a candidatura do Lula afirmando que, se ele fosse eleito, as igrejas seriam fechadas, a cor da bandeira brasileira seria alterada de verde, amarelo azul e branco para o vermelho comunista, etc.
Parte 2O cara daquela época era o Collor, caçador de corruptos, que ele chamava de marajás. Os pastores usavam o púlpito para conclamar os seus fiéis a votar no Fernando Collor de Melo pois ele era a grande esperança dos evangélicos para salvar o pais da iniquidade que o lulopetismo queria institucionalizar. Quem quiser ter uma idéia do ambiente político em que as eleições de 1989 aconteceram, é só assistir aos vídeos do último debate da campanha presidencial, daquele ano.
Parte 3O Collor foi eleito e todos sabem como esta história acabou em 1992. Em 2002 o Lula foi eleito, está aí até hoje e a nossa bandeira não mudou de cor e, nunca antes na história deste país, tantas igrejas foram abertas. Quer dizer, os temores de 21 anos atrás não tinham fundamento.
Parte 4Eu não estou muito animado para votar na Dilma, mas isto não é resultado desta "guerra santa virtual". Reconheço os benefícios da administração petista, citados pelo meu amigo Clemir Fernandes num e-mail:
- 1. O país cresceu e promoveu distribuição de renda,
- 2. Aumentou efetivamente salários;
- 3. Ampliou o número de postos de emprego e com garantias sociais, etc etc.
Mas não me agrada mais o estilo petista de governar e a maneira como foram tratadas as denúncias dos tantos escândalos que têm vindo à tona. Ninguém foi punido e os caciques do partido, envolvidos até o pescoço, estão aí dando as cartas nesta eleição.
Parte 6Também não quero votar no José Serra. Citando mais uma vez o Clemir, apresento os meus motivos: Ele representa o grupo que:
- 1. Entregou de bandeja as riquezas nacionais ao grande capital,
- 2. Destruiu postos de trabalho e aumentou vertiginosamente o desemprego,
- 3. Achatou salários, além de muitas outras cositas más.
No primeiro turno, eu me despenquei da minha casa, em Niterói, até o centro do Rio de Janeiro, apenas para ser + 1 a votar na Marina. Mas neste segundo turno estou pensando seriamente em justificar, pois não quero legitimar com o meu voto nenhum dos dois candidatos que me desagradam.
Parte 8Reconheço que a Marina não era a candidata perfeita, que o PV não é o partido dos meus sonhos e que possui algumas alianças indigestas. Mas eu não queria votar nem na Dilma nem no Serra.
Parte 9Se eu mudar de idéia, votarei na Dilma, pois a considero o mal menor diante da opção de ter o Serra como presidente. O fato de ela ter sido terrorista/ativista no passado, pouco importa para mim, são outros tempos e até o PT, em sua prática política, já admitiu isto ao manter boa parte dos fundamentos da política economica do Itamar/FHC, para garantir a estabilidade e ter condições para governar.
Parte 10 Não localizadaSe eu mudar de idéia, votarei na Dilma, pois a considero o mal menor diante da opção de ter o Serra como presidente. O fato de ela ter sido terrorista/ativista no passado, pouco importa para mim, são outros tempos e até o PT, em sua prática política, já admitiu isto ao manter boa parte dos fundamentos da política economica do Itamar/FHC, para garantir a estabilidade e ter condições para governar.
Parte 11Eu acho que esta discussão sobre aborto e casamento gay (sou contra ambos) está sendo utilizada pelos dois candidatos como cortina de fumaça para que eles fujam da discussão de temas relevantes da saúde pública, da economia, e outros, que exigiriam respostas mais elaboradas e a exibição de planos de governo consistentes.
Parte 12Evangélicos e católicos deveriam trazer para o debate eleitoral as questões da injustiça social que afetam o nosso povo. Para ser relevante a igreja precisa pregar às almas perdidas, mas sem se esquecer de cuidar dos corpos que sofrem. Como diz Leonardo Boff: “sem a pregação da justiça não há evangelho que seja de Jesus Cristo. Isso não é politizar a igreja: é ser fiel”. (Igreja Carisma e Poder – p. 65).
Parte 13Assistir ao último debate da campanha presidencial de 1989 é um exercício muito interessante para perceber a transformação que os candidatos sofrem ao longo dos anos. Naquela época Lula e Collor eram inimigos ferrenhos, trocavam sérias acusações entre si, cada um tentando demonstrar que se o outro fosse eleito, o país iria sofrer amargamente.
Parte 14O Collor se classificava como um candidato cristão, cujo plano de governo seria defender os valores da família cristã. Discurso é bem semelhante ao que vem sendo apresentado na propaganda do Serra, que acusa a Dilma de ser favorável ao aborto, enquanto ele defende a vida.
Em 1989, o portugês do Lula era bem ruim mesmo, se compararmos com os discursos atuais, e notório o progresso que ele obteve no domínio do idioma. O Collor falou que era contra o calote, contra mexer na poupança...
O Collor também falou do risco de se eleger um candidato que não tinha nenhuma experiência na administração pública. Ele, que tinha sido governador de Alagoas, era a melhor opção, porque sabia o que era governar. Parece bastante com os discursos que temos ouvido hoje, não?
Enfim, é importante prestar atenção no processo político que o nosso país vivencia. Ele não aconteceu de ontem para hoje, é fruto de um amadurecimento político e histórico que precisa ser aperfeiçoado sempre, para que nas próximas eleições possamos observar mais progressos do que retrocessos no Brasil.
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