sábado, outubro 09, 2010

RELIGIOSIDADE E OPRESSÃO

RELIGIOSIDADE E OPRESSÃO

Ide a Betel e pecai! Ide a Gálgala e pecai ainda mais! Trazei cada manhã vossos sacrifícios, e ao terceiro dia vossos dízimos. Queimai com fermento vossas ofertas de ação de graças; anunciai, publicai oblações voluntárias! Porque isto é o que amais, filhos de Israel - oráculo do Senhor Javé. Amós 4.4-5

A religião carrega e seus preceitos os valores de um povo. É a ela que se costuma recorrer quando se percebe a necessidade de restaurar os princípios éticos de uma sociedade. Os líderes espirituais precisam ser íntegros, para serem capazes de liderar a nação em sua peregrinação espiritual em busca de um encontro com Deus.

Depois de superar o difícil período do êxodo pelo deserto, Israel vivia um momento de estabilidade, fruto da política expansionista promovida por Davi e solidificada por Salomão. As famílias mais ricas conquistavam os seu espaço, dividiam o poder e organizavam a economia. Enfim, Israel começava a exercer influência entre as nações do seu tempo.

Mas nem tudo ia bem. O progresso do país não correspondia a uma melhora na condição de vida de todos. As diferenças sociais aumentavam: as riquezas se concentravam nas mãos de poucos, enquanto que para os mais pobres, a vida ficava cada vez mais difícil e sem opções dignas para dar conta das necessidades básicas de um indivíduo.

Ao invés de protestar contra a injustiça, a religião institucionalizada buscava garantir a estabilidade, para agradar aos que detinham o poder. As belas cerimônias tranquilizavam a consciência da alta sociedade e serviam para frear os ímpetos revolucionários dos insatisfeitos.

Não faltavam rituais, peregrinações e ofertas mas, ainda que bem intencionados, estes cultos não agradavam a Deus porque produziam alienação.

A oposição do profeta era desagradável. Quem desejaria ouvir palavras tão duras quando tudo parecia caminhar bem? Porque alguém teimava em ser tão radical e intransigente? Naquele momento, desenvolver no povo a capacidade de analisar criticamente a própria situação era a atitude mais inconveniente que se poderia adotar.

A destruição prometida na profecia de Amós nada mais era do que a opressão e a violência voltando-se contra a sociedade que a praticava. Fome e penúria eram cenários familiares aos pobres, que estavam fora da vista dos ricos, que viviam confortavelmente isolados em suas bolhas de prosperidade.

Deus estava chamando o seu povo à conversão antes que ele fosse destruído por sua iniquidade. “Por isso, Israel, eis o que te infligirei; e porque te farei isso, prepara-te, Israel, para sair ao encontro de teu Deus!” (v12) Este encontro não seria ocasião de festa, mas de acerto de contas.

Não é uma atitude sábia endurecer o coração para Deus. Ele conhece cada detalhe de nossos pensamentos e deseja trazer esperança para quem não encontra mais razão para viver.

Amós decidiu permanecer fiel a Deus, mesmo quando as atitudes politicamente corretas recomendavam calar e concordar com o rei. Israel decidiu ignorar as advertências do profeta. Eles não imaginavam que esta decisão equivoada lhes custaria muito caro no futuro.

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