Voluntária mantém abrigo na Ilha do Governador para crianças carentes
A casa, para menores abandonados, é administrada, com grandes dificuldades, por uma guerreira: Dona Ilma, que conversa com o repórter Edney Silvestre sobre adoção, amor e solidariedade.
A Coluna Bate Papo vai mostrar um cantinho muito especial da Ilha do Governador: é o Abrigo Alma, onde vivem 23 crianças com idades entre 1 e 10 anos. A casa, para menores abandonados, é administrada, com grandes dificuldades, por uma guerreira: Dona Ilma, que conversa com o repórter Edney Silvestre sobre adoção, amor e solidariedade.
Todos nós queremos que as crianças que sofrem violência em casa ou que são abandonadas por suas famílias possam ter o amparo dos governos. Mas, diante da realidade que nós também conhecemos, a nossa entrevistada no bate-papo de hoje resolveu agir. E ela conta como:
Edney Silvestre: Lá na Ilha do Governador a senhora tem um abrigo. Neste abrigo a senhora tem crianças que passaram por diversos tipos de sofrimento e violência. A senhora tem os seus filhos biológicos, adotados, por que ainda estender tudo isso, ficar se preocupando com uma coisa que deveria ser preocupação dos nossos governos, dos impostos que nós pagamos.
Ilma de Souza: É dando continuidade, duas crianças dessas saíram de dentro do abrigo. São filhas hoje. Tirando os biológicos tem os do coração. E por que não fazer mais um pouco? Hoje a casa tem 23 crianças, de 2 a 10 anos, esperando o que vai acontecer, se faz a reintegração familiar, se vai pra uma família substituta.
Quando a senhora começou a fazer um trabalho pelo próximo, começou distribuindo comida?
Não, eu comecei com uma garrafa térmica de café com leite e 20 pães. Saia da Ilha e ia para o centro da cidade. E pegava o ônibus e ali mesmo acabava tudo. Foi um surgindo um grupo, se interessou pelo meu trabalho e demos a mão. Mãos amigas.
Por que a senhora fazia isso? Sair com garrafa térmica e pães?
Eu não podia dar muito, era tudo que eu tinha para dar ao próximo, então por que não fazer? E aí começou o nosso trabalho. Formou-se um grupo, de madrugada íamos distribuir 430 pratos de sopa por noite, mas era um trabalho solto. E tinha também o trabalho da mamadeira. Era “troque sua mamadeira suja por uma mamadeira limpa e cheia”.
Como era isso?
Quando a gente via a criança chorando na rua, o bebê com a mãe, chegávamos até lá e perguntávamos: o que ele tem? Ele está com fome? Você tem mamadeira? Então as mães davam as mamadeiras vazias e eu dava uma cheia. E foi se multiplicando.
E essa casa, as 23 crianças são sustentadas como?
Por doações, mas está muito difícil.
A senhora faz como? Sai pelas ruas pedindo doações?
Não, as pessoas chegam até a gente. Elas sempre ligam e perguntam qual a necessidade. São várias e uma delas é uma sede própria, porque o aluguel está muito puxado.
E essas crianças que vão pra lá são crianças abandonadas ou conduzidas?
São conduzidas pelo conselho tutelar, pela 1ª Vara da Infância e Juventude. E tem dado certo. Hoje, acabamos criando um vínculo de amor.
Tanto que a senhora adotou três?
Sim, antes de começar o trabalho, eu já tinha uma, a Vanessa, que tem 18 anos. E meus filhos biológicos, um tem 34, outro 30, mais um de 29, a Vanessa 18, Vitória de 9 e Juliana de 6 anos.
Juliana e Vitória, fala delas para nós
É difícil falar porque cada uma é uma experiência. Juliana quando chegou tinha 3 meses e a irmã dela foi entre a vida e a morte. E nós estamos lá para cuidar, amparar, mostrar para eles que podem ser umas crianças maravilhosas. Às vezes elas chegam desconfiadas e eu penso que vai ser mais um desafio, mas dá tudo certo no final.