TEMPO: O PRESENTE DA VIDA
Debaixo do Céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar a planta. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para costurar. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz. Eclesisates 3.1-8
O TEMPO PRESENTE: LUGAR DE RELACIONAMENTO COM DEUS
Debaixo do Céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: Este é um dos pontos mais importantes do livro do Eclesiastes, pois nele, o Coélet realça a importância do tempo presente, mostrando-o como um lugar teológico por excelência, onde o homem pode encontrar-se com Deus. O passado já se foi, o futuro é uma probabilidade. O mais importante é o presente concreto onde de fato Deus se encontra e onde o homem poderá com ele se relacionar.
Ao introduzir a variável do tempo, o Coélet fala do ritmo da vida humana que deve adaptar-se à característica de cada tempo, mantendo o equilíbrio no movimento (como quem anda de bicicleta) e não de ficar sonhando com uma estabilidade imutável que simplesmente não existe.
Do versículo 2 ao 8, o autor apresenta uma série de 14 antíteses que pretendem representar todas as possibilidades que podem ocorrer durante a vida, transmitindo a idéia de que a existência humana se faz dentro de polaridades opostas que cobrem toda sua duração, desde o nascimento, (v. 2a) até a paz (v.8b).
Nesta alternância de situações boas e ruins, posso descobrir o relacionamento com Deus como algo possível já, independentemente do estado emocional em que eu me encontre. Isto me permite encarar os fatos da vida sob uma nova perspectiva: Minha vida é um projeto em construção. Em Deus eu sou maior do que meus erros e acertos, e sempre terei uma nova oportunidade para retornar à casa do Pai porque “O amor do Senhor não acaba jamais e a sua compaixão não tem fim. Pelo contrário, renovam-se a cada manhã.” Lm 3.22-23.
O PRESENTE E SUAS POSSIBILIDADES
Um encontro:
Que de alguma forma transformará minha vida.
Oferecerá orientação no tempo da dúvida.
Proporcionará a solução de um problema.
Uma amizade:
Para encorajar nos momentos difíceis.
Para celebrar na alegria.
Que me aceita do jeito que eu sou.
Para encorajar nos momentos difíceis.
Para celebrar na alegria.
Que me aceita do jeito que eu sou.
Um emprego
Trará a provisão para as necessidades.
Permitirá a construção de uma carreira.
Produzirá a realização pessoal.
Estas e incontáveis possibilidades estão ao seu alcance, neste exato momento. Para aproveitá-las basta estar aberto a relacionar-se com as pessoas, disposto a viver o momento, e sensível à voz de Deus que se manifesta das mais variadas formas ao seu redor.
O PRESENTE E A ETERNIDADE
Se pudéssemos escolher, todos iríamos preferir os momentos agradáveis aos ruins. Mas isto não é possível. A vida não permite a acomodação e a sabedoria consiste em assimilar a tensão que leva ao equilíbrio entre os opostos. A sabedoria do povo alcança este entendimento quando diz: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”, e a fórmula contrária é igualmente válida: “Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe.” G.K. Gibran diz isto de forma mais profunda quando se refere à alegria e à tristeza: elas “vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à sua mesa, lembre-se de que a outra dorme em sua cama.” Por isso, a maior sabedoria está na tensão que nos leva ao equilíbrio da serenidade, sem que nos deixemos arrastar pelos extremos da alegria e da tristeza.
“O que existe, já havia existido; e o que existirá, também já existiu. Deus busca aquilo que foge.” v.15 Este versículo traz o ápice de toda a consideração sobre a temporalidade e eternidade em que está mergulhada a vida humana. Às vezes queremos nos refugiar no passado, mas não adianta: “o que existe já havia existido”. Outras vezes imaginamos que é no futuro que seremos felizes. Também não adianta. Sentimo-nos então constrangidos à única dimensão que nos resta: o presente. Isso, de início, nos parece pouco e limitado demais. Contudo, se olharmos bem a dimensão do presente, veremos que é nele que se realiza ou pode se realizar aquilo que mais buscamos, seja qual for o momento e o tempo (3.1-8) que nele estiver acontecendo. Porque no presente se manifesta o principal da vida humana: o encontro com a eternidade, a comunhão com Deus, porque “Deus busca aquilo que passa”. Nessas poucas palavras está o que de mais profundo se diz no livro do Eclesiastes.“Aquilo que passa” (literalmente, “aquilo que é perseguido” ou “aquilo que foge”) é o próprio presente, a dimensão fugitiva da vida, a dimensão extremamente efêmera. Todavia, é neste efêmero e fugitivo momento que Deus está presente, e em movimento: a eternidade toda está junto de nós, incidindo nesse ponto zero em que tempo e espaço se cruzam. Deus esteve no passado e também estará no futuro, mas, concretamente, aqui e agora ele se encontra neste momento, passando por este presente fugitivo. Se deixarmos de lado este presente, arriscaremos a nos perder na saudade ou na mera expectativa, deixando escapar pelo vão dos dedos o lugar e o tempo teológico por excelência, o presente no qual Deus se encontra.
CONCLUSÃO
“Viver o presente” pode soar para nós como algo extremamente óbvio. Contudo, não é exatamente no óbvio que está o maior mistério? A sabedoria consiste justamente em atentar para a extrema simplicidade do óbvio, procurando entendê-lo e compreendê-lo. Em geral, porém, imaginamos que a verdade é extremamente complexa e buscamos o complexo, perdendo-nos no meio de grandes complicações.
NOTA:
Este texto é uma síntese das páginas 54 a 60 do livro citado na referência bibliográfica, com alguns comentários pessoais do organizador.
RERERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
STORNIOLO, Ivo. Trabalho e Felicidade – O Livro do Eclesiastes – Paulus – SP – 2002.