terça-feira, junho 24, 2008

SEDE DE JUSTIÇA



JUSTIÇA SOCIAL TAMBÉM É VIDA DEVOCIONAL


Texto Básico: Amós capítulo 5


Mensagem – 02 – Amós 5.14-15



SEDE DE JUSTIÇA

"Procurem o bem e não o mal; então vocês viverão. Quem sabe, assim – como vocês dizem – Javé, Deus dos exércitos, estará com vocês. Odeiem o mal e amem o bem; restabeleçam o direito no tribunal. Quem sabe, assim, Javé, Deus dos Exércitos, terá misericórdia do resto de José". Amós 5.14-15


O povo brasileiro é apaixonado por futebol. Multidões se reúnem nos estádios e em frente à TV para assistir aos jogos dos campeonatos e em época de copa do mundo, o país para ao ver a bola rolar pelo gramado.

Os jogadores sabem que esta paixão é coisa séria e por isso se esforçam muito para fazer os gols que ajudarão a levar o seu time à vitória. Quando atuam mal, eles se escondem, pois sabem que a torcida reagirá com irritação e, em alguns casos, até com fúria.

Toda esta vibração com o futebol se transforma em apatia quando o assunto é a política, saúde ou segurança das cidades ou do país. Os sucessivos escândalos já não surpreendem mais. Como o profeta Amós pode nos ajudar a enfrentar esta estrutura social tão problemática? Como ele enfrentou os males do seu tempo?

1. Amós Lembrou que é Necessário Recuperar a Indignação Diante do Mal Social. "Odeiem o mal e amem o bem".

Os necessitados de minha cidade também são pessoas amadas por Deus

Ao nascer o bebê precisa de cuidado integral. Ele chora quando tem fome, sede ou sofre com alguma dor, pois sabe que a sua mãe o compreenderá e virá em seu auxílio. Abandonado, ele não terá condições para sobreviver. Esta é a primeira dimensão do cuidado que o ser humano enfrenta .
As necessidades mudam à medida em que a pessoa cresce, mas uma delas é comum à toda a humanidade: Ninguém pode viver só. Cuidar do próximo nos humaniza: "O cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano (...) O ser humano é um ser de cuidado, mais ainda, sua essência se encontra no cuidado. Colocar cuidado em tudo o que projeta e faz, eis a característica singular do ser humano." (1)

A partir desta visão o outro passa a ter um rosto e um nome deixando de se apenas um número na estatística da violência e da miséria. Ele se torna gente.

O amor torna meu, o sofrimento do outro.

O Cuidado revela amor: "O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele; disponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida."(2)

O envolvimento na causa da justiça social só se torna possível quando existe o amor. Este trabalho consome tempo, requer envolvimento com os problemas complicados de outras pessoas e nem sempre terá uma solução satisfatória. Qualquer expectativa de reconhecimento produzirá frustração. A recompensa deve acontecer pelo simples fato de poder colocar o cuidado em prática.

2. Amós Ouviu a Pergunta do Povo: Onde Deus Está Nesta Desordem Toda? "Quem sabe, assim – como vocês dizem – Javé, Deus dos exércitos, estará com vocês".

Porque ele não põe fim ao sofrimento?

Este questionamento atormenta a alma sempre que alguma tragédia atinge pessoas inocentes, mais ainda se estas forem crianças. O silêncio do Todo-poderoso incomoda quando nos sentimos impotentes para deter as conseqüências do mal. Será que o Pai celestial não se importa com o destino dos seus filhos?

Em Jesus, Deus tornou-se homem e sofreu a injustiça. Jesus sofreu por nós e sofreu conosco: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado." Hebreus 4:15.

A bíblia revela que o sofrimento humano entristece o coração de Deus de tal forma, que ele decidiu identificar-se completamente com a sua criação. Em Jesus, Deus tornou-se homem e sofreu a injustiça. Jesus sofreu por nós e sofreu conosco: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado." Hebreus 4:15.

A igreja como resposta divina à calamidade.

Jesus Cristo outorgou o Espírito Santo à sua igreja. Ele habita o coração de cada um de seus membros, proporcionando a certeza de que fomos resgatados do pecado e amorosamente acolhidos pela graça de Deus.

Cabe à igreja a tarefa de dar continuidade ao ministério de Jesus Cristo na terra tornando-se a sua presença nos lugares onde o sofrimento acontece. Onde Deus está quando sofremos? A pergunta certa deveria ser: Onde a Igreja está nestas horas (Pilip Yancey).

A igreja dará continuidade ao ministério de Cristo, marcando a sua presença nos lugares onde o sofrimento insiste em imperar. Não podemos ocultar esta esperança de redenção.

3. Amós Anunciou a Resposta: Deus é Encontrado Onde Há Justiça. "Restabeleçam o direito no tribunal. Quem sabe, assim, Javé, Deus dos Exércitos, terá misericórdia do resto de José".

A injustiça social é pecado.

A igreja não pode calar-se diante da iniqüidade. Ela deve lutar para que a causa do mais fraco seja ouvida e articular-se para cobrar do poder público a mudança das leis injustas. Desta forma ela dará um testemunho do amor divino mais forte do que várias pregações proferidas em seus templos.

Tortura, morte, assalto a trabalhadores ou aos cofres públicos são sinais de carência de amor numa sociedade. "A justiça é aquele mínimo de amor sem o qual a relação entre as pessoas deixa de ser humana e se transforma em violência" (3)

Uma doutrina sã não hesitará em condená-la

O Evangelho valoriza a vida acima da lei e das tradições. Quando a realização destas favorece a opressão dos mais fracos, certamente Deus as rejeitará, tal como Jesus fez, quando foi criticado por permitir que seus discípulos colhessem espigas de milho, num sábado, para mata a fome. "Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor." Mateus 12.7-8


Conclusão

O amor é o vínculo da nossa união com o outro e com Deus: "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim". João 17.22-23

A graça recebida só produz os seus efeitos quando é compartilhada com o outro, caso contrário, ela se transformará em egoísmo. O egoísmo destrói a relação com o próximo e nos afasta de Deus. "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?" I João 4-1


Notas

1. BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – p. 91

2. BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – pp. 34 e 35

3. BOFF, Leonardo. Igreja Carisma e Poder – p. 66


4. BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – p. 100

Referências

BOFF, Leonardo, Igreja: carisma e poder, Ed. Record – Rio de Janeiro – RJ – 200

BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra – Vozes – Petrópolis – RJ – 1999

quinta-feira, junho 12, 2008

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL
Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!”

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de O desafio ético (Garamond), entre outros livros.

quarta-feira, junho 11, 2008

DEUS, VIDA E DIGNIDADE


JUSTIÇA SOCIAL TAMBÉM É VIDA DEVOCIONAL


Texto Básico: Amós capítulo 5.

Mensagem – 01 – Amós 5.4-7



DEUS, VIDA E DIGNIDADE

“Assim diz Javé à casa de Israel: Procurem a mim, e vocês viverão. Não procurem Betel, não façam romarias a Guilgal, nem corram para Bersabéia. Pois Guilgal irá toda para o exílio e Betel será reduzida a nada. Procurem a Javé, e vocês viverão. Senão, ele virá como um fogo sobre a casa de José e a queimará, e em Betel não haverá quem o apague. Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra.” Amós 5.4-7


O mundo é complicado, para qualquer lado que se olhe é possível observar que algo está fora da ordem. A grande expectativa das pessoas é perceber a intervenção de um poder superior, que promova num passe de mágica, aquilo que não temos sido capazes de produzir ao longo dos séculos: Justiça.

A bíblia registra em suas páginas episódios destas intervenções, e revela a sutileza da ação divina ao longo da história humana. Ao invés de buscar os holofotes e os poderosos do momento, Deus escolhe os mais simples, provenientes dos lugares mais afastados para, junto com eles, iniciar um processo de transformação que começa no dia-a-dia do povo, e produzirá um impacto espiritual profundo.

Amós era um simples vaqueiro que vivia tranqüilamente cuidando de algumas cabeças de gado em seu sítio, quando foi chamado por Deus para denunciar e “colocar em polvorosa todo um regime de injustiças”. O comprometimento do profeta em proclamar esta mensagem despertou o povo de Israel no século oitavo antes de Cristo, e ainda hoje toca os corações daqueles que consideram a justiça social como fator determinante da vida devocional da igreja e da sociedade. A mensagem de Amós incomodou aqueles que queriam que tudo permanecesse no mesmo lugar, porque ele ia direto ao assunto:


1. Amós Denunciava o Mal que Provocava o Afastamento de Deus. "Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra”.

Primeiro pecado: torcer o direito em favor dos privilegiados.

Como em todas as épocas, os ricos da terra de Amós, desfrutavam das facilidades que podiam comprar com o dinheiro que possuíam. Não contentes com isso, eles ainda buscavam comprar vantagens adicionais, subornando as autoridades para burlar a lei, que pretendia produzir a igualdade entre os diversos estratos sociais daquela nação.

A aliança entre o poder político e o religioso garantia o silêncio necessário para preservar a boa imagem dos poderosos na sociedade. Seria o plano perfeito, se não aparecesse um profeta impertinente para revelar com todas as letras possíveis o que estava sendo feito às escondidas: “Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra”.

O direito se transforma em veneno quando ele legaliza os meios de opressão e, ao invés de proteger o necessitado, amplia a miséria onde ele vive. Uma das formas de se lançar o direito por terra naquela época era o pesado sistema de impostos que sacrificava o povo, para sustentar os governantes e sacerdotes.


Segundo pecado: desprezar a justiça em nome da conveniência.

Quando acontece da notícia de um crime tomar proporções nacionais, é comum ouvir-se o clamor pela justiça contra os acusados, mas quantas vezes, em nosso dia-a-dia, permitimos que as injustiças aconteçam sem que isto nos incomode. O caso Isabela causou indignação, mas quantas outras crianças sofrem abusos, são feridas e mortas, sem que ninguém diga uma palavra em protesto? É necessário que a justiça seja feita neste crime, mas é fundamental que a partir daí, ela se espalhe como um rio de águas purificadoras, que procede do trono de Deus, para saciar a sede tantas famílias, que hoje padecem esquecidas.

O que a Igreja de Cristo pode fazer para encontrar caminhos para solucionar os problemas da comunidade em que ela vive? Como oferecer às crianças, em situação de risco, um futuro diferente do tráfico ou da prisão, ao qual elas parecem previamente condenadas?

2. Amós Alertou que Não Existem Atalhos no Relacionamento com Deus. “Não procurem Betel, não façam romarias a Guilgal, nem corram para Bersabéia. Pois Guilgal irá toda para o exílio e Betel será reduzida a nada. Procurem a Javé, e vocês viverão. Senão, ele virá como um fogo sobre a casa de José e a queimará, e em Betel não haverá que o apague”.

Os falsos profetas falavam o que o povo queria ouvir.

O sistema religioso é considerado a reserva moral de uma nação. Quando tudo falha, o povo espera de seus sacerdotes a atitude para trazer o equilíbrio necessário para restaurar a ordem. Como exemplos de líderes religiosos que lutaram pelo estabelecimento da justiça entre o seu povo é possível citar: Os monges budistas do Tibet, que se levantaram em protesto contra o domínio chinês, o arcebispo de Brasília, Dom João Brás de Avis, que durante um missa na câmara dos deputados, condenou o aumento que eles haviam se concedido.

“Como aceitar que um parlamentar ganhe R$ 800,00 por dia, quando boa parte das pessoas que representam é obrigada a viver com R$ 12,00 (por dia)? Como aceitar que o Judiciário legisle em alguns casos em seu favor, sem demonstrar sensibilidade para com o povo para o qual as leis são feitas? Atitudes como as que temos visto nestes dias matam o espírito de Natal”. 1

Como resultado daquela palavra corajosa denunciando um abuso, o aumento foi suspenso.

"Surpreendidos pela repercussão negativa nas ruas, na Igreja e nos movimentos sociais, deputados e senadores tentaram evitar o desgaste de votar, em plenário, novo percentual de reajuste para seus subsídios nesta legislatura. Envergonhados e pedindo desculpas à sociedade, e sem uma proposta de consenso que pudesse melhorar a imagem do Congresso Nacional, líderes e o presidente da Câmara, (...), desistiram, na noite desta quarta-feira, depois de muito bate-boca, da decisão de elevar os subsídios para o teto de R$ 24.500,00 - vetado na véspera pelo Supremo Tribunal Federal - ou mesmo aprovar um reposição inflacionária, que elevaria os atuais R$ 12.720,00 para R$ 16.475,00."(1)

Martin Luther King, lutou pelos direitos civis dos negros americanos e Mahatma Ghandi, com a sua resistência pacífica, lutou contra o domínio britânico e pela independência da Índia.

Quando os profetas se corrompem, eles ganham prestígio, por não entrar mais em confronto com os poderosos ao falar aquilo que eles desejam ouvir, mas a sociedade perde parte importante de seu poder de mobilização.

O pecado de Israel é quase sempre relacionado à idolatria, mas uma observação atenta à mensagem dos profetas, mostrará um Deus indignado com a exploração social que condenava os mais pobres, do povo que ele escolheu, a uma vida indigna e sem esperança.
Soluções superficiais produzem decepção.

Calar-se diante do mal traz benefícios imediatos, que podem durar bastante tempo, mas eles têm dia e hora para acabar. Soluções superficiais tendem a agravar um mal, que se fosse adequadamente tratado, teria uma solução mais rápida e eficaz. É mais fácil retirar os mendigos das ruas e esconde-los em albergues afastados, do que promover políticas que permitam a inclusão desas pessoas no mercado de tabalho.

O problema é que para encarar a sua estrutura corrompida a sociedade precisa encarar a si mesma e reconhecer a sua participação neste pecado. Isto fere o orgulho próprio, incomoda e exige o desejo se envolver com os excluídos, com o objetivo de inseri-los na comunidade. Este processo longo e tedioso favorece aos profetas de ocasião, valorizando as suas mensagens que falam muito sem nada dizer, mas aliviam as consciências culpadas.

A arte, que se expressa através da música, do teatro, da dança da pintura, etc, se apresenta como um instrumento importante para dizer a verdade, tocar os corações e promover mudanças na sociedade. O criador da logomarca da cidade de Nova York fez o seguinte comentário sobre a importância da arte: "É preciso fazer coisas que mexam com a mente, Se você diz algo diretamente, não será ouvido. A arte, pela música, pela poesia, etc, Faz com que as pessoas compreendam A mensagem que precisam ouvir."


3. Amós Mostrou o Caminho que Deveria ser Seguido. “Assim diz Javé à casa de Israel: Procurem a mim, e vocês viverão”.

Só Deus resgata a dignidade do ser humano.

Cada pessoa é um projeto infinito e precisa ser respeitada no seu direito de possuir condições para alcançar uma vida melhor para si e para a sua família.

Promover a dignidade do ser humano glorifica ao Senhor. Somos imagem e semelhança de Deus. Não podemos permitir que o nosso próximo seja humilhado, e que outros venham a obter lucros explorando a sua miséria.

Buscá-lo produz vida.

Vida abundante, porque a solidariedade humana se transformará num dos braços da providência divina no momento em que as dificuldades chegam. Nas comunidades carentes o sofrimento é amenizado porque as pessoas se importam com o drama das outras. Apesar de possuírem pouco, eles não se importam e dividir com o outro, quando sabe que isto poderá saciar a sua fome. É interessante perceber como esta atitude se aproxima do ideal de amor que Jesus requer daqueles a que ele chamará de “Benditos de Meu Pai” no dia do grande julgamento.

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mateus 25.34-40


Buscá-lo produz paz.

Buscar a Deus resulta numa vida em paz por que a pessoa mantém a sua esperança na realização do Reino de Deus que foi prometido e que se estabelece à medida que a igreja levanta a sua voz profética em defesa da Justiça. “Abra a boca em favor do mudo e em defesa dos desfavorecidos. Abra a boca e dê sentenças justas, defendendo o pobre e o indigente”. Provérbios 31.8-9.

Conclusão

A igreja se torna relevante em sua comunidade à medida em que ela assume de corpo e alma o ministério de promover a dignidade de seus pobres de seus excluídos e lhes mostra o evangelho como um caminho que proporcionará a libertação espiritual do pecado, que os afasta de Deus e a libertação social, que os fará descobrir que eles podem ser protagonistas de suas vidas e não meros figurantes que se sacrificam, para produzir a riqueza de outros, sem nunca poder usufruir dos resultados do seu trabalho.
O Evangelho não é um projeto político, mas a sua vivência integral influencia todas as esferas da sociedade e faz da igreja um poderoso agente de transformação.

Nota e Referencias