UMA BELEZA AMEAÇADA
"Rio quarenta graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos..." Fernanda Abreu
O Rio de Janeiro é uma cidade de contradições. Lindas paisagens enchem de alegria os olhos que contemplam o Cristo de braços abertos no alto do Corcovado. O Pão de Açúcar guarda a entrada da Baía de Guanabara e as praias refrescam os verões escaldantes. Quando se olha de perto, porém, o ambiente de violência e injustiça emerge ameaçador. O som dos tiros já é familiar aos ouvidos dos cariocas e o medo dos assaltos tornou vazias algumas ruas que, anteriormente, eram agitadas por pessoas que buscavam se divertir em lugares belos e agradáveis. Estas situações roubam a paz e trazem à tona um importante questionamento: Onde Deus está, que permite estas tragédias acontecerem? Os versos do poeta expressam muito bem esta angústia:
"Como, Deus? Não vês? Seus filhos morrem
De fome! Matam-se sem um porquê!
A quem, a quem então eles recorrem
já que Deus, nada disso vê?"
(MIKHAIL, p.14)
Ao contrário do que o senso comum quer fazer crer, Deus também se entristece com a violência e a miséria que destroem a sociedade. Falando ao profeta Isaías, ele expressa a sua insatisfação: "Lavem-se, purifiquem-se, tirem da minha vista as maldades que vocês praticam. Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva. Então venham e discutiremos – Diz o Senhor" (1.16-18).
A indignação causada pela injustiça social demanda uma atitude, mas como um Deus invisível poderá tornar as suas ações libertadoras conhecidas para os que delas necessitam? Neste ponto, estabelece-se um desafio ético fundamental: Todos os habitantes desta cidade, sejam eles pobres, ricos, brancos, negros, doutores ou analfabetos, são iguais e têm direito a uma vida digna, a comida em sua mesa, a diversão e a segurança. Negligenciar este acordo causa a desigualdade que alimenta a violência.
"Não diga a seu próximo: Vá embora. Passe depois, que eu lhe darei amanhã, quando você tem a coisa na mão." (Provérbios 3.28). A indiferença para com o necessitado é um mal que precisa ser vencido. Demonstrar interesse pelo próximo é enxergá-lo como gente, é se importar com o seu sofrimento, é se envolver com ele na busca das soluções e clamar por justiça diante de um poder público ineficiente. "Abra a boca em favor do mudo e em defesa dos desfavorecidos. Abra a boca e dê sentenças justas, defendendo o pobre e o indigente" (Provérbios 31.8–9).
O conceito de Cidade Maravilhosa se esvai diante do caos que ameaça a vida das pessoas. Existe alguma solução? Podemos aprender com Jesus um caminho para estabelecer um pacto, a fim de cicatrizar feridas e tornar o Rio cada vez mais belo: "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles (...)" (Mateus 7.12).
Como ser cristão numa cidade de empobrecidos e miseráveis (BOFF, p. 54)? Esta pergunta precisa calar fundo em nossos corações. Somente assim alcançaremos a felicidade de viver num lugar onde a opressão será banida e, em seu lugar, reinarão a alegria e a justiça.
REFERÊNCIAS
MIKHAIL, Andrei. O Tocador de Lira. Rio de Janeiro: Nonoar Edições, 2007.
BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e poder. Rio de Janeiro: Record, 2005.
BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. Trad. Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. São Paulo: Paulus, 1991.
Um comentário:
To indicando o teu texto lá no blog...
abração,
Pedro.
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