segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O REINO DE DEUS - I - Continuação

O Reino de Deus - I - Continuação


Um Reino de Libertação


"À tarde, depois do pôr-do-sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que estavam possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu na frente da casa, Jesus curou muitas pessoas de vários tipos de doença e expulsou muitos demônios. Os demônios sabiam quem era Jesus, e por isso Jesus não deixava que eles falassem."

Marcos 1.32-34


O Evangelho proclama uma mensagem que alcança integralmente ao ser humano. Ele preocupa-se com a dimensão espiritual, mas entende que este espírito habita num corpo que precisa ser cuidado. Jesus dedicou uma parte especial de seu ministério aos pobres, doentes e endemoninhados, os rejeitados, pois não havia quem se interessasse por eles.

Marcos destaca que além de curar o corpo, Jesus também expulsava os demônios com o propósito de deixar claro que não são apenas as enfermidades físicas que abalam a vida de alguém, as espirituais também causam um grande prejuízo. Ao libertar as pessoas de suas possessões, Jesus lhes abria uma nova perspectiva de integração na sociedade. Agora elas poderiam relacionar-se com suas famílias, conquistar amigos, desenvolver uma atividade profissional, enfim, serem pessoas completas.

A saúde é fundamental para a boa qualidade de vida. A doença consome as forças, limita os movimentos e, não raro derrota o corpo levando-o à morte. Quem é saudável tem disposição e pode lutar para transformar os seus sonhos em realidade.

Jesus veio ao mundo para "...anunciar a boa notícia aos pobres (...) para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor". Lucas 4.18-21. Ele deixou com a igreja a responsabilidade de dar seqüência a este ministério. Para cumprir esta missão é necessário sair das quatro paredes do templo e envolver-se na comunidade para descobrir no pobre um semelhante, que precisa de Deus e é amado por ele tanto quanto eu ou você.



Um Reino de Inclusão


"De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. Simão e seus companheiros foram atrás de Jesus e, quando o encontraram, disseram: Todos estão te procurando. Jesus respondeu: Vamos para outros lugares, às aldeias da redondeza. Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim. E Jesus andava por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas e expulsando os demônios".
Marcos 1.35-39
O homem é um ser de relacionamentos. Sua identidade pessoal se constrói a partir da família e dos amigos que o aceitam, valorizam o seu potencial e o ajudam a superar as limitações. Uma pessoa isolada perde as referências e pouco a pouco não conseguirá mais enxergar-se como gente, digna de amor e acolhimento.

Jesus teve um ministério curto. Ele ia de cidade em cidade curando e libertando os oprimidos com o objetivo de anunciar a boa notícia do Reino de Deus. Apesar de ver a sua popularidade crescendo, ele não se deixava seduzir por isto. Ao ser alertado pelos seus discípulos de que todos lhe procuravam, lembrou-se daqueles que ainda precisavam conhecê-lo.

A característica marcante do Reino de Deus é a inclusão. Independentemente de cor sexo, ou posição social, Deus recebe os seus filhos com alegria e sem discriminação. Incluir significa amar e considerar a felicidade do outro como essencial para a minha existência.

A sociedade atual vive sob o signo da exclusão. ela informa a todo o momento que "...a exclusão é o destino inevitável. A questão não é 'se' nas 'quem' e 'quando'. (...) todos são avisados que não têm capacidade de permanecer porque existe uma cota de exclusão que precisa ser preenchida" .(1) Este exclusivismo cria o fenômeno chamado de "pessoas descartáveis", que por não se adequarem aos padrões impostos, estão fora do mercado de trabalho, das escolas e transformam-se em "refugo humano". Um contingente enorme de pessoas sem perspectivas das quais a sociedade preferiria se esquecer.

Jesus veio para mostrar que não existem pessoas descartáveis no reino de Deus. Desde o mais humilde trabalhador braçal até o mais erudito professor universitário, todos são parte do mesmo corpo e têm colaborações importantes para oferecer. 1 Coríntios 12.12-31. Sua consciência da missão não o deixava ficar parado em apenas um lugar desfrutando das atenções dos admiradores, mas o levava "aos outros lugares, às aldeias da redondeza", que ainda não haviam ouvido a sua mensagem, "pois foi para isso que eu vim". Declarou Jesus.

À igreja cabe abrir as suas portas, levantar a sua voz profética contra as injustiças que acontecem em sua comunidade e tornar-se um local de acolhimento para todos os que desejam conhecer a Deus, especialmente para os rejeitados como "refugo humano". Assim eles descobrirão o seu valor enquanto pessoa e desenvolverão a capacidade de sonhar e ter esperança. É para isto que estamos aqui.


NOTAS

(1) PINHEIRO, Gustavo. O Lixo da Globalização - Entrevista com Zygmunt Bauman - Caderno Prosa e Verso - O Globo - 05/11/2005 - pág 1


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PINHEIRO, Gustavo. O Lixo da Globalização - Entrevista com Zygmunt Bauman - Caderno Prosa e Verso - O Globo - 05/11/2005.

BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.
BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra – Vozes – Petrópolis – RJ – 1999.
BOFF, Leonardo, Igreja: carisma e poder, Ed. Record – Rio de Janeiro – RJ – 2005.

SOUZA, Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração – Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. Encontro Publicações - Curitiba – 2002.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

O Reino de Deus - I

O Reino de Deus - I

Introdução


No domingo - 04/02/2007 - iniciamos na EBD II da juventude da Igreja Batista Itacuruçá - Tijuca - RJ, um estudo sobre o Reino de Deus. O que é este reino? Quais são as suas fronteiras? O que a bíblia diz sobre ele? Ali pretendemos buscar as respostas para estas e outras perguntas que este assunto tão instigante desperta.

Os textos a seguir são observações sobre as passagens bíblicas utilizadas em sala de aula. Decidi escrevê-los para colaborar com o debate que realizaremos. A minha oração é que esta análise nos permita compreender o desejo divino para o estabelecimento do seu reino e que, apesar de nossas imperfeições, sejamos capazes de agir criativamente para torná-lo realidade em casa, na igreja e na cidade onde vivemos.


A Boa Notícia do Reino de Deus

"Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus". Marcos 1.1


Uma boa notícia precisa ser espalhada para que muitas pessoas tenham a oportunidade de celebrar a alegria que ela proporciona.

Marcos anuncia a chegada de alguém muito esperado pelo povo de Israel. Ele já começa identificando o protagonista do seu evangelho como o Filho de Deus, o Ungido, para que não paire nenhuma dúvida sobre as credenciais de Jesus Cristo.

A esperança messiânica alimentava o coração dos israelitas, que viviam sob a opressão do domínio Romano. Eles resistiam duramente a qualquer império invasor porque confiavam na promessa de que Deus enviaria um libertador para derrotar o inimigo e restaurar a antiga glória experimentada durante os reinados de Davi e Salomão.

Saber que o filho de Deus já habitava nas terras da palestina era decididamente uma boa notícia, mas como conciliar a agenda divina, preocupada com as pessoas, e a agenda dos líderes religiosos, que se importavam apenas com o poder e a sua manutenção.? As decepções certamente aparecerão no ajuste destas prioridades, mas um fato não pode ser alterado: " Mais do que uma nova mensagem provinda de Deus referente a Jesus Cristo, o evangelho é a ação divina em meio aos homens." 1


Preparando o Caminho do Reino

"Está escrito no livro do profeta Isaías: Eis que eu envio o meu mensageiro na tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem as suas estradas!"
Marcos 1.2-3.


Deus não guarda segredo de seus atos, ele os revela a todos quantos desejam conhecê-lo. Os profetas foram mensageiros enviados para denunciar a injustiça, o pecado, e chamar as pessoas ao arrependimento. A importância do ministério de Jesus está no fato de que o próprio Deus tornou-se humano para viver entre seus filhos e revelar-lhes o caminho para o seu reino.

Todo o caminho leva a algum lugar. Uns revelam lindas paisagens de recantos agradáveis, outros, têm como destino locais perigosos que escondem ameaças que podem levar à morte. Para tomar o caminho correto precisamos de orientações seguras, e esta era a missão de João Batista: dizer a todos os que andavam sem rumo, que agora havia uma esperança de encontrar a paz.

Para seguir em direção ao Reino de Deus é necessário optar por abandonar a antiga jornada, buscar o retorno e seguir por uma nova estrada. Esta decisão implica em rompimentos, em sacrifício mas, a sua recompensa está em aproximar-se de Deus e desfrutar da intimidade com ele.

Cada o caminho tem um ponto de partida e outro de chegada, as placas e os guardas rodoviários indicam por onde seguir. A bíblia aponta Jesus como o caminho que revela que o Reino de Deus está entre nós.



É Chegado o Reino de Deus

“O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na boa notícia”. Marcos 1.15.


Por que Deus esperou tanto tempo para manifestar o seu reino ao mundo? Sua condição de Todo-Poderoso não lhe garantiria poderes para revelar-se em qualquer época?

Deus não precisa de suas criaturas para afirmar-se, mas o seu amor levou-o a adequar-se de forma que a manifestação de seu reino pudesse ser assimilada por todos que fossem apresentados a ele.

Este reino tem características especiais: Ele não é político, é espiritual. Não tem fronteiras geográficas, mas abrange cada nação pela unidade do Espírito Santo. Não é um reino de força, mas de amor. Não possui um exército para fazer valer os seus interesses, pois a sua arma é a oração e a sua munição, a misericórdia para acolher ao necessitado.

Este reino está na contra mão de seu tempo que valoriza a agressividade e a arrogância como virtudes num mundo competitivo, enquanto Cristo prioriza a humildade e a sinceridade em detrimento da hipocrisia nos relacionamentos.

Em seu ministério Jesus valorizou mais as pessoas que os sistemas religiosos. Ele não hesitava em curar um doente no sábado, conversar com as prostitutas ou com os cobradores de impostos, mesmo que isto despertasse a ira das autoridades, apenas para afirmar o cuidado de Deus para com elas.

Para fazer parte do reino de é necessária a conversão, que é uma mudança de vida motivada pelo desejo de aproximar-se de Deus. A liberdade que o evangelho oferece ao ser humano é a possibilidade de abandonar tudo o que represente obstáculo ao relacionamento com Deus e descobrir nele o Pai amoroso que se importa com os seus filhos. Esta é a boa notícia que Cristo veio anunciar.

O Reino de Deus - Notas e Ref. Bibliográficas

NOTAS

1 - A Bíblia - Tradução Ecumênica - Edições Loyola - Paulinas - Direção da Ed. Brasileira: Gabriel C. Galache. P. 1233


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOFF, Leonardo - O Senhor é o Meu Pastor - Consolo divino para o desamparo humano - Rio de Janeiro - Sextante - 2004.

BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.

Bíblia - Tradução Ecumênica - Edições Loyola - Paulinas - Direção da Ed. Brasileira: Gabriel C. Galache.