Princípios para uma ética cristã a partir de Gálatas 5.13
"Irmãos,vocês foram chamados para serem livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário,disponham-se ao serviço uns dos outros através do amor".
A ética cristã subverte certos valores da hierarquia humana, com o intuito de chamar a atenção para detalhes importantes, que são esquecidos na ferrenha batalha por um lugar ao sol em que homens e mulheres estão envolvidos cotidianamente. Neste versículo, Paulo destaca o conceito de liberdade analisando-o pela ótica da mensagem de Jesus Cristo, que estabelece o serviço ao próximo como um padrão de excelência para quem deseja ser fiel a Deus.
Em todos os períodos da história da civilização o poder, que se caracteriza pela condição que alguns indivíduos possuem de dominar os outros, sempre foi um objetivo cobiçado. Servir era para os fracos, para os escravos, para aqueles que foram derrotados. O evangelho inovou ao propor que ao invés da força, o amor ditasse as regras de convivência social servindo de base para a construção de uma ética contrária à injustiça e à opressão.
Fomos chamados para ser livres, mas o que isto significa na prática? O apóstolo alertou para o perigo que o abuso da liberdade pode representar ao testemunho cristão. O que seria do mundo se todos fizessem o que bem entendessem? O discípulo de Cristo deve encarar a sua liberdade como uma oportunidade para demonstrar o quanto o amor divino pode transformar a vida do seu próximo.
Na busca de princípios para a construção de uma ética cristã consistente, o amor é a palavra chave para definir o rumo a ser seguido pela comunidade eclesiástica. A falta de amor leva ao descaso com pobres, com as crianças desamparadas e com todos os que sofrem as consequências da exclusão social. A presença do amor traz o cuidado,e faz toda a diferença.
O cuidado é a base da ética humanizadora. Na sequência do texto da epístola aos Gálatas, Paulo afirma: "Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'“. (v.14). O amor torna o outro importante e o transforma num ser digno de cuidado. É a partir daí que se começa a entender a ideia da igreja como o corpo de Cristo, onde a alegria ou o sofrimento de uma pessoa envolve a todos na celebração ou na busca do tratamento para o mal que a aflige.
O evangelho de Mateus alerta: "o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês". (23.11). No âmbito do reino de Deus a disposição para servir ao próximo é sinal de maturidade espiritual. O ato puro e simples de servir não tem tanta importância quanto a disposição do coração daquele que serve. O ativismo interesseiro chama atenção para uma pessoa ou grupo específico e não produz transformações onde ele acontece. O serviço dedicado com amor semeia esperança nos corações desanimados.
O exercício egoísta daliberdade prejudica a vida em comunhão: "Se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente".(Gl 5.14), mas o amor é capaz de tornar compreensíveis conceitos que não se consegue expor com palavras. Em sua poesia, Cecília Meireles afirmou: "Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
O serviço ao próximo, o amor e o cuidado precisam ser os princípios básicos para orientar a doutrina e a práxis de qualquer igreja cristã, que deseja ter a sua relevância social e espiritual reconhecida na comunidade onde ela se encontra.
Referências:
BOFF, Leonardo, SaberCuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Vozes, Petrópolis, RJ, 1999.
BÍBLIA SAGRADA – EdiçãoPastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin – Paulus – SP –1991.