terça-feira, maio 29, 2012
quinta-feira, maio 24, 2012
ELISEU: PROFECIA É AÇÃO SOLIDÁRIA - Ruben Marcelino
ELISEU: PROFECIA É AÇÃO SOLIDÁRIA
Ruben Marcelino
INTRODUÇÃO
Quero pensar sobre 2Rs 6.8-23.
Trata-se de uma história do profeta Eliseu. Uma história impressionante de
solidariedade em pleno contexto de uma guerra entre a Síria e Israel. Nela,
quero destacar três dimensões da ação profética de Eliseu relacionadas à solidariedade.
1) ELISEU MOSTRA-SE SOLIDÁRIO
PARA COM A SUA COMUNIDADE
Percebemos que a ação profética
de Eliseu é dirigida inicialmente à proteção do seu povo contra a ameaça dos
sírios. Eliseu entende que a sua atividade de profeta está inserida no quadro
maior da aliança do SENHOR com Israel e deve servir à promoção dessa aliança.
Embora críticos ferozes de Israel em vários momentos, os profetas, como é o
caso de Eliseu aqui, também põem-se ao lado do seu povo para solidarizarem-se
com eles em momentos de crise.
É curioso que, em todo o ciclo de
Eliseu (2Rs 2 - 13), haja várias histórias de milagres desse profeta em que
grupos mais amplos de pessoas são beneficiados. Eliseu mostra que o SENHOR em
nome de quem ele profetiza está presente quando há ações concretas de
solidariedade do homem e da mulher de fé, ao mesmo tempo, em favor da
comunidade de fé e também da comunidade secular. Digo isso porque a crise que
Israel enfrentava era também uma crise política. Do mesmo modo, não somos
somente pessoas vinculadas a um grupo religioso, mas igualmente cidadãos. Não
basta dizer o que é que Deus quer para a igreja, o bairro, o município, a
cidade, o país ou o mundo, seja consolo, justiça, recursos ou caridade. É
preciso pessoalmente empenhar-se para que essas coisas aconteçam. O SENHOR
dissera a Eliseu quais eram as pretensões dos sírios em relação a Israel. Mas
Israel só foi salvo porque o profeta comunicou o que sabia ao rei.
Gostaria de sugerir que você
pensasse modos pelos quais pode mostrar-se solidário em favor desta comunidade
cristã da qual faz parte e em favor de outros grupos sociais nos quais você
está inserido(a): Há atividades aqui na igreja em que você poderia ajudar? Há
alguma coisa que você possa fazer para melhorar as condições de vida no seu bairro?
Há pessoas e animais aos quais você poderia prestar assistência?
2) ELISEU MOSTRA-SE SOLIDÁRIO
PARA COM O SEU COMPANHEIRO MAIS PRÓXIMO
Na angústia do seu moço por causa
do cerco dos sírios a Dotã, Eliseu amparou-o. O texto deixa claro que o profeta
era o principal implicado naquela ameaça. Entretanto, Eliseu deixou a si mesmo
de lado por um momento e foi cuidar do seu companheiro aflito.
O milagre fora incrível, sem
dúvida! Imagine olhar as montanhas e vê-las tomadas por cavalos e carros de
fogo! E mais, um exército tão surreal que está a nosso favor! O moço de Eliseu
certamente foi confortado diante da ameaça do cerco das tropas dos sírios. Só
que ele só pode ver o que viu porque Eliseu, o profeta, encorajou-o e, em
seguida, pediu ao SENHOR por ele. A solidariedade de Eliseu "abriu os
olhos" do seu moço para ver mais amplamente e, assim, devolveu-lhe a
esperança. Eliseu ajudou seu moço a lidar com aquela situação de tensão e
tranquilizou-o.
Há muitos, é verdade, que
precisam de nossa solidariedade. E quanto àqueles que estão mais próximos de
nós? São mães, pais, esposas, esposos, filhas, filhos, parentes, amigos,
pessoas de nossa intimidade, animais de estimação que podem estar sofrendo sem
que a gente dê pela coisa. Podemos achar que é suficiente dizer que precisam
fazer isso ou aquilo para melhorar. Mas a solidariedade parece exigir que
apoiemos esses nossos próximos fazendo tudo o que pudermos e, ainda,
permaneçamos ao lado deles(as) mesmo que, no momento, não saibam, ou não
consigam, ou não queiram fazer o necessário para melhorarem. Eliseu disse ao
seu moço: Não temas, ou seja, tranquilize-se! Também disse: Você não está
sozinho, eu estou do seu lado e há muito outros por nós! Depois, o próprio
Eliseu faz algo em favor do rapaz: uma oração ao SENHOR. Em sua ação solidária,
Eliseu move-se do seu moço para si. O companheiro do profeta não resolveria sua
crise sozinho. Eliseu assegurou-lhe que havia três envolvidos na solução do
problema: o moço, o SENHOR e o próprio profeta.
"Abrir os olhos" de
nosso mais próximo aflito não é algo com que lidar como se fosse coisa
qualquer, que não nos diz respeito. Envolve ser os olhos do outro enquanto este
os tem (ou mantém) fechados.
Os sírios haviam cercado Dotã
para prender Eliseu. Diante daquele exército hostil, o profeta age em três
etapas:
a) Fechando os olhos sírios: A
primeira oração de Eliseu ao SENHOR em relação aos sírios, bastante específica,
desencadeia uma cegueira nos seus adversários. É como se a atitude de Eliseu
fizesse com que os sírios se deparassem com o que estava envolvido em sua ação
agressiva. A hostilidade prejudica não apenas quem é hostilizado, mas também
quem hostiliza. Isso desnorteia a pessoa, pois ela já não é capaz de enxergar
mais nada além do mal que quer causar, acabando, no final, por ser atingida por
suas próprias ações.
b) Conduzindo os sírios enquanto
cegos: Eliseu leva os sírios cegos para dentro da Samaria, capital de Israel,
seus adversários. O profeta procura, ironicamente, conduzi-los a "olhar
mais de perto" a condição em que sua hostilidade os coloca. Isto é,
através de Eliseu, os sírios percebem aonde sua agressividade vai levá-los: a
mais agressividade por parte daqueles a quem têm por inimigos. Notem que o rei
de Israel, logo que vê os sírios em seu poder, já quer matá-los!
c) Abrindo os olhos dos sírios (e
de Israel) para que entendessem que, ao mal, responde-se com o bem: Os sírios
se deram conta da enrascada em que se meteram. Foram atrás de Eliseu e caíram
nas mãos de Israel. O ansioso rei de Israel, por sua vez, não podia esperar por
chance melhor de acabar com a raça dos inimigos. Entre os dois lados, estava
Eliseu. O profeta, porém, faz algo que surpreende os sírios e Israel. O rei de
Israel, diz Eliseu, se quisesse, que matasse aqueles a quem ele próprio
capturasse. Os cativos trazidos pelo profeta, entretanto, seriam alimentados e
libertados. Os sírios e Israel vinham uns de encontro ao outro com ódio. Eliseu
veio ao encontro de ambos com solidariedade. O último versículo do texto diz
que "da parte da Síria não houve mais investidas na terra de Israel".
Solidariedade não se pratica por
merecimento, mas humanidade. Não para ganhar alguma coisa, mas dar o que o
outro precisa. E, mesmo que haja ódio do outro lado, os efeitos do gesto
solidário podem ser incríveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alguns estudiosos do Novo
Testamento já disseram que Jesus, conforme descrito nos Evangelhos Sinóticos
(Marcos, Mateus e Lucas), aproxima-se muito do estilo de Elias e Eliseu. Os
três notabilizam-se pelos milagres que fazem, sim, mas também por aquilo que está
envolvido em tais milagres: a solidariedade para com as pessoas. Pode-se dizer
que, em certo sentido, Jesus foi discípulo de Eliseu. Como Eliseu, Jesus
preocupava-se com seu povo e assistiu muitas pessoas. Como Eliseu, Jesus
cuidava dos seus próximos: ele alimentou seus discípulos, ensinou-os e
defendeu-os, procurando, inclusive, por aqueles que o haviam abandonado quando
fora preso. Como Eliseu, Jesus não negou ajuda a pessoas consideradas indignas
ou inimigas, além de não ameaçar ou reagir com violência contra aqueles que o
torturavam. Jesus andou nos passos de Eliseu. Vamos junto com ele?
Prédica proferida na Igreja
Batista Central de Novo Hamburgo em 11 de março de 2012.
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