igreja, VISÃO E MISSÃO.
"Então Jesus
disse-lhes: Vão pelo mundo inteiro e anunciem a boa notícia para toda a
humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será
condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes:
expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem cobras ou
beberem algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre
os doentes, estes ficarão curados”. Marcos 16.15-18
O evangelho é a proposta divina para o mundo que está em crise. O novo
testamento apresenta a preocupação de Jesus em orientar os discípulos para um
futuro em que eles não contariam mais com a sua presença física para apoiá-los.
Os textos conhecidos como “a grande comissão” enfatizam os eixos nos
quais a missão eclesiástica precisa se basear, para tornar-se uma agência
propagadora do Reino. Estes eixos são: ir, anunciar, ensinar, curar e libertar.
A observância atenta destes princípios permite que a igreja se articule num
relacionamento harmonioso com o céu e com a terra, cuidando da alma perdida, sem
se esquecer de tratar o corpo que sofre.
Ir, o primeiro eixo da missão, caracteriza a mobilidade que a igreja
deve ter para estar nos lugares onde o evangelho precisa ser ouvido. “Vão pelo
mundo inteiro”. O verbo ir luta contra a tendência natural que o ser humano tem
de ficar no mesmo lugar por toda a vida.
Quando se espalha, a igreja amplia a sua influência e coloca o outro em
seu raio de ação, mas quando se torna estática, ela se transforma num clube,
que cresce pensando apenas em si e no que lhe é mais conveniente.
O segundo eixo, anunciar, ressalta a importância de se proclamar a mensagem
a todos quantos puderem ouvir. “Anunciem a boa notícia”. A esperança que
recebemos de Deus é um tesouro que não pode ficar guardado a sete chaves, porque
evapora e se perde. Ele precisa ser compartilhado para multiplicar-se e cumprir
o seu propósito restaurador.
O evangelho amplia o entendimento. Após ouvi-lo a pessoa se torna consciente
de seu valor diante de Deus e da humanidade, passando a lutar pelos seus
direitos e por aqueles que não possuem meios para se defender quando sofrem
injustiças.
Ensinar, o terceiro eixo, destaca a centralidade do ensino bíblico para
a construção de um modelo de missão saudável para a igreja. “Portanto, vão e
façam com que todos os povos se tornem meus discípulos”. Mateus 28.18.
É no processo de discipulado que se criam os vínculos que vão manter as
pessoas na congregação. Estas amizades se tornam preciosas nos momentos
importantes da vida, sejam eles as crises ou as comemorações.
Os irmãos na fé nos convencem de que somos amados por Deus caminhando ao
nosso lado, para não nos deixar solitários, ouvindo-nos atentamente durante
horas, ou simplesmente caindo na gargalhada, quando contamos uma piada sem
graça.
O ato de ensinar forja a unidade espiritual no caráter da igreja, pois o
discipulador transmite os seus conhecimentos bíblicos e aprende com as
experiências de seu discípulo. Nesta prática é possível descobrir que, no reino
de Deus não existe pobre ou rico, erudito ou analfabeto. Somos todos necessitados e dependentes uns dos
outros, quando o assunto é a graça de Deus.
O quarto eixo da missão, curar, enfatiza o cuidado que se deve ter com o
próximo. Jesus sempre acolheu os doentes que lhe solicitaram ajuda demonstrando
amor ao curar as suas enfermidades. Deus pode operar curas sobrenaturais, mas o
maior milagre acontecerá quando os cristãos se envolverem apaixonada e
responsavelmente no enfrentamento dos sérios problemas estruturais que afetam
comunidade onde eles vivem.
Num país em que os hospitais e as políticas públicas tratam de forma
desumana as multidões que não têm condições de pagar por um atendimento melhor,
a igreja não pode ficar indiferente cultuando em templos confortáveis, como se
nada estivesse acontecendo.
Em busca de uma inserção eficaz, a igreja pode colocar-se como mediadora
entre o poder público e as autoridades na busca de alternativas que atendam às
demandas da sociedade da qual ela faz parte.
Cuidado significa: solicitude, preocupação, responsabilidade, ele
permite a comunhão entre as pessoas e o respeito. “O cuidado somente surge
quando a existência de alguém tem importância para mim.” 1 A
opressão produz doença, mas o cuidado viabiliza a cura.
Libertar, o quinto eixo, assinala o envolvimento da igreja com as dores
sociais e espirituais do mundo. “Os
sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios
em meu nome”. Jesus não permitia que as pessoas vivessem possessas por maus
espíritos. Por onde passava ele as libertava. Esta faceta de seu ministério era
tão importante que os discípulos receberam a autoridade para enfrentar o poder das
trevas.
De muitas maneiras o povo tem se deixado dominar espiritualmente por
líderes manipuladores, que sob o pretexto da fé, aprisionam aqueles que os seguem
e os utilizam para alcançar os seus objetivos pessoais. A missão da igreja é
desmascarar estas armações e anunciar que um novo tempo de liberdade chegou.
Durante um discurso na sinagoga de Nazaré, Jesus anunciou o seu programa
de atividades ministeriais e manifestou a sua preocupação com as questões
sociais do seu tempo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele (...)
enviou-me para proclamar a libertação aos presos (...); para libertar os
oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”. Lucas 4.18.19.
Na Galileia ocupada, Jesus mencionou temas sensíveis para os ouvidos das
tropas romanas, ávidas por encontrar os revolucionários de plantão. Apesar das restrições,
ele não deixou de afirmar o quanto os oprimidos, os fracos e os desprezados são
bem vindos, no reino de seu Pai.
Ir, anunciar, ensinar, curar e libertar resumem a razão que a igreja tem
para existir. No texto das bem aventuranças Jesus incentiva os seus discípulos
a mostrar ao mundo que eles desejam fazer diferença:
“Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que
poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e
ser pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma
cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la
debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para
todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos
homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de
vocês que está no céu”.
Uma igreja que deseja ser relevante precisa ter a sensibilidade aguçada
para perceber os assuntos que mexem com o coração de sua vizinhança. Enquanto permanecer
isolada, ela não terá a chance de conhecer a sua comunidade e jamais
conquistará o seu coração.
Mais do que um local para reunião e ensino de doutrina, a igreja realiza
a sua função espiritual quando se transforma num lugar de amor, que acolhe os
seus membros, trata as suas feridas e os encoraja a não desistir, apesar das
dificuldades.
NOTA
1. BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, p. 91
REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra –
Vozes – Petrópolis – RJ – 1999.
BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral – Tradução Ivo Storniolo, Euclides
Martins Balancin – Paulus – SP – 1991.