O cristianismo possui rituais que são celebrados periodicamente nas igrejas. A Eucaristia, palavra latina que significa ação de graças [1], é também chamada de Comunhão ou Ceia do Senhor e tem relação com outra cerimônia judaica muito importante: o “pessach” ou páscoa. Qual é esta relação e porque Jesus Cristo fez questão de celebrá-la antes de sua morte na cruz?
1. Páscoa: O memorial da libertação do povo que vivia no Egito. Êxodo 12.1-20 [2]
- Pão sem fermento – Pressa na saída – A libertação veio de repente, era necessário alimentar-se antes de sair para a longa jornada e não havia tempo para esperar todo o processo de fermentação do pão tradicional.
- Ervas amargas – Sofrimento na escravidão – Após a libertação e vivendo a nova vida confortável, é natural que o povo se esqueça de que antes havia grande opressão. As ervas amargas simbolizam a tristeza vivida diante da dominação egípcia.
- Passagem da escravidão para a Liberdade – A peregrinação pelo deserto não foi somente um deslocamento populacional de um ponto geográfico a outro do planteta. Ela resgatou a dignidade de uma nação devolvendo-lhe o poder de decidir o seu destino e de usufruir, com sua família e amigos, o resultado do seu trabalho.
2. A Última Ceia – Mateus 26.17-35 [3]
- Um ritual comum na religião judaica – Jesus não rebelou-se contra a sua herança cultural. Ele cumpria fielmente os rituais importantes de sua religião.
- Jesus estabeleceu um novo significado para a páscoa a partir de seu sacrifício – Ele veio promover a reconciliação entre Deus e o homem. A sua morte na cruz nos libertou do poder do pecado abrindo o caminho para que este relacionamento se tornasse possível.
- Êxodo e ressurreição, exemplos de redenção – Deus se importa tanto com a liberdade física de seus filhos quanto com a sua condição espiritual. Ambos os eventos mostram a redenção de uma situação de escravidão para a liberdade. A graça é demonstrada na disposição divina de ouvir o lamento de seu povo, providenciar um libertador e no ato de abrir-se para um relacionamento pessoal revelando-se em Cristo. A Resposta humana para este amor é receber pela fé o presente oferecido, e crer que Deus existe e abençoa a todos aqueles que o buscam. Hebreus 11.6 [4]
3. Os Símbolos da Eucaristia – I Coríntios 11.23-28 [5]
- Celebração da libertação – A celebração permite compartilhar com aqueles que são mais importantes, as conquistas e alegrias que a vida proporciona. Ao Celebrar é o reconhecemos públicamente que fomos abenoçados.
- Celebração da comunhão – Não é possível fazer festa sozinho. Precisamos de uma comunidade, de pessoas que dividam conosco a carga do tabalho e participem das alegrias por mais um ciclo completado. Festejar renova as forças e anima para obter novas e mais relevantes vitórias.
- Lembrança de nossa dependência de Deus. Romanos 6.4-5 [6] – Diante de Deus não existe forte, fraco, analfabeto ou erudito, todos somos dependentes de seu amor e estamos unidos a ele como resultado da morte de Cristo na Cruz e de sua ressurreição.
- Somos partes do mesmo corpo. I Coríntios 10.16-17 [7] – Esta união em Cristo revela que dependemos do nosso semelhante para continuar vivendo. A sabedoria divina nos fez complementares, ninguém é completamente forte que não precise de auxílio, nem tremendamente fraco que não possa ajudar alguém.
CONCLUSÃO
A função dos rituais da páscoa judaica e da eucaristia é contar a história do êxodo e do sacrifício de Jesus para as novas gerações, preservando o seu significado vivo na alma do povo. Desta forma, a celebração não será apenas uma repetição mecânica, mas uma festa onde levantaremos o cálice e repartiremos o pão para comemorar o presente recebido de Deus e a libertação de toda a forma de opressão que quer impedir-nos de desfrutar a vida abundante que ele nos oferece. Entender a importância destas práticas renova a nossa disposição para cultar a Deus em espírito e em verdade.
NOTAS
- [1] Eucaristia - s. f. Do Lat. Eucharistia - Gr. eucharistía, acção de graças: Fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx – Data da obtenção do texto: 23/07/2007
- [2] Êxodo 12:1-20. “Disse o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito: Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro. O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito; e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem; naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão. Não comereis do animal nada cru, nem cozido em água, porém assado ao fogo: a cabeça, as pernas e a fressura. Nada deixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis. Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor. Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito. Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo. Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas, pois qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel. Ao primeiro dia, haverá para vós outros santa assembléia; também, ao sétimo dia, tereis santa assembléia; nenhuma obra se fará nele, exceto o que diz respeito ao comer; somente isso podereis fazer. Guardai, pois, a Festa dos Pães Asmos, porque, nesse mesmo dia, tirei vossas hostes da terra do Egito; portanto, guardareis este dia nas vossas gerações por estatuto perpétuo. Desde o dia catorze do primeiro mês, à tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e um do mesmo mês. Por sete dias, não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado será eliminado da congregação de Israel, tanto o peregrino como o natural da terra. Nenhuma coisa levedada comereis; em todas as vossas habitações, comereis pães asmos.”
- [3] Mateus 26:17-35 “No primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, vieram os discípulos a Jesus e lhe perguntaram: Onde queres que te façamos os preparativos para comeres a Páscoa? E ele lhes respondeu: Ide à cidade ter com certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos. E eles fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Chegada a tarde, pôs-se ele à mesa com os doze discípulos. E, enquanto comiam, declarou Jesus: Em verdade vos digo que um dentre vós me trairá. E eles, muitíssimo contristados, começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura, sou eu, Senhor? E ele respondeu: O que mete comigo a mão no prato, esse me trairá. O Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido! Então, Judas, que o traía, perguntou: Acaso, sou eu, Mestre? Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste. Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras. Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.”
- [4] Hebreus 11:6 “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.”
- [5] I Coríntios 11:23-28 “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice.”
- [6] Romanos 6:4- 5 “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição.”
- [7] I Coríntios 10: 16-17 “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.
- Fonte: http://www.bibliaonline.net/scripts/bol.cgi - Versão: João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada – Data da obtenção do texto: 23/07/2007
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS